NECATI - Núcleo de Estudos, Capacitação e Terapias Integradas.
CURSOS OFERECIDOS: Atendimento ao Público/ Relação Interpessoal/ Inteligência Emocional;Relações Humanas; 5S;Oratória; Dislexia;Arte terapia;Mediação de Conflitos familiar.
24/07/2013
Psicopedagogia e as contribuições da fenomenologia
significaçaõ dos sentidos que possibilite a ampliação dos olhares e de sua compreensão. A clínica não fala pelo “Ser”, cuida para que ele fale por si mesmo através dos fenômenos que vão surgindo , sem necessariamente corresponder nem seguir critérios de caráter verdadeiros ou falsos, certo ou errado, mas de serem possibilidades de sentido ,em um interjogo na relação que constitui o espaçode diálogico clínico.
Uma Perspectiva da Fenomenologia na Clínica Psicopedagóca - Filosófica existencial
O método fenomenológico ganha importância diante das limitações das psicoterapias de cumprir sua fnalidade em aliviar o sofrimento dos pacientes. Sofrimento este que também é o alvo da clínica psicopedagógica, daí a utilidade do método fenomenológico aplicado na clínica psicopedagógica.
Para Huisman (1997/2001) a existência seria uma situação mal resolvida e aparentemente sem solução entre a compreensão dos propósitos e dos questionamentos que se assume diante da vida. A relação existente entre sofrimento e existência, e da relação entre psicoterapia e método.
O impasse está ou no silêncio de Deus ou na efemeridade dos valores.
Huisman faz referência a esse desconforto causado por tal impasse, que perpassou vários séculos. Desde Sócrates (469-399, a.C.), na flosofia do conhecer a sí, do cuidar de sí, e do retorno a sí mesmo.
Históricamente o pensamento filosófico desde os seus primórdios confronta –se entre duas propostas , uma que objetiva a partir das ideias de homem ,de mundo e de Deus; e outra propsta que é a a compreensão para o homem seus sentimento e sua subjetividade.
Para tal compreensão , Pascal acreditava que se fazia necessário ao homem refletir a propria vida através da meditação, afim de compreender o universo, sua grandeza, o sofrimento e a morte.
Descartes (1596-1650), no apelo à transcendência e à emergência de uma consciência livre.
Hrreigel, diz em seu idealismo que o sofrimento exigia uma experiência real e não simplesmente o conhecimento.
Enquanto a ética de Kant, acreditava que a escolha já estava decidida em favor do bem universal. Para Kierkegaard, essa abstração formal era vazia, distanciada do sofrimento da existência, onde a manutenção da incerteza no lugar da verdade, a dúvida da fé, para a manutenção da própria fé, onde o homem sem Deus não tem signifcação.
A psicoterapia na abordagem fenomenológica existencial possibilita um encontro cuja a finalidade é ajudar a pessoa aolhar para sí, de forma que lhe permita ver sua assência verdadiera , para que lhe seja possível identificar e experienciar seus desejos e defesas de forma a confrontar-se com sua própriarealidade, o que lhe permitirá encontre o seu lugar no mundo e que perceba outras formas de existir nesse mundo, através de respostas que vão surgindo no momento em que o projeto existencial torna –se mais compreensível.
À partir do momento em que as figuras vão se reconfigurando, como peças de um quebra cabeça, que vão se encaixcando , onde ocorre a resolução de situações até então não compreendidas e que passam a elucidar-se-em pode-se afirmar que o trabalho das áreas “Psi” na clínica é trabalhar um sujeito que é pura possibilidade de potencialidades à partir de suas vivências.
Segundo Romero (1997), a observação e a escuta do paciente devem ser realizadas com base em oito dimensões existenciais fundamentais: as dimensões ontológica do homem como ser no mundo, social e interpessoal, da práxis, corporal, motivacional, afetiva, espaço-temporal e axiológica, que diz respeito aos valores inerentes à existência social e individual.
“ O fator traumatizante, tal como é possível vislumbrar em uma neurose, não é nunca um acontecimento real por si só, senão o que dele tem dito ou calado aqueles que estão ao seu redor. São palavras, ou sua ausência associadas com a cena penosa, as que dão ao sujeito os elementos que impressionarão sua imaginação” (Manoni in Fernandez,1990).
O terapeuta, como assinala Fages, é uma testemunha que legaliza a palavra do paciente.
O método fenomenológico na visão de Hurssel e Martin Heidegger
O método fenomenológico proposto por Husserl e o existencialismo é polêmica, o quanto tem sido polêmico os limites do fazer psicopedagógico na clínica.
Husserl apontava para uma abstração idealista da redução transcendental incompatível com a concretude da existência, defnindo a fenomenologia como um método flosófco descritivo capaz de conceber uma psicologia que fundamentaria a psicologia empírica sendo capaz de, como flosofia universal, proceder à revisão metodológica de todas as ciências.
O método fenomenológico apresenta-se como importante contribuição não só para a psicologia, bem como para a psicopedagogia clínica , pois não se ocuparia da compreensão da subjetividade, mas também com a apuração da racionalidade na busca do conhecimento e como este se dá de indivíduo para indivíduo..
A aplicação do método fenomenológico para Husserl, se dá na relação entre consciência e experiência. A consciência entendida como uma estrutura apta para tomar conhecimento do que se apresenta na experiência uma vez que sem experiência não há consciência. E a consciência, por sua vez, é o resultado de uma história de vida, permeada por suas crenças e convicções passada e presentes.
A finalidade é encontrar a co relação entre o que está escondido na diversidade da experiência e nas sombras da consciência. O mundo se refere à consciência e a consciência só poder ser desvendada quando se revela sua estrutura transcendental que é onde reside a subjetividade, o puro Ego e sua contituição e fraquezas.
29/12/2011
Psicopedagogia,Família e Dificuldades de Aprendizagem
Contribuições da psicopedagogia clínica e da família nas dificuldades de aprendizagem escolar
LednalvaOliveira
RESUMO: A aprendizagem é uma ação integradora uma vez que acontece segundo a adequação das diferentes características que constituem o sujeito, somadas ao ambiente em que está inserido. O artigo teve como objetivo a investigação de como os pedagogo e psicopedagogos que atuam em psicopedagogia clínica, compreendem os problemas de aprendizagem em crianças, e o papel da família.Como vêem , especialmente os pais ,nos referidos problemas.Foi utilizado um método qualitativo tendo como instrumento um roteiro semi-estruturado,utilizado em uma entrevista individual, realizada com uma psicopedagoga clínica e com uma estagiária de pedagogia. Para tentar responder a demandas escolares, a criança e sua família precisam empreender um processo de elaboração subjetiva que exige de ambas um grande investimento psíquico que, nem sempre, é bem sucedido. Isso fica mais evidente quando consideramos a intensidade com que a sociedade contemporânea, herdeira da modernidade, expõe os indivíduos a novas informações e conhecimentos, cobrando-lhes, com freqüência, um desempenho pautado em um ideal imaginário de perfeição. Dentre as principais fontes de problemas de aprendizagem, as participantes apontaram a grande dependência da criança em relação à mãe, a não participação escolar destas na vida dos filhos e a tendência atual dos pais em delegar aos educadores e psicopedagogos os cuidados desse processo. Assim, consideramos que os conhecimentos psicopedagogos sobre as formas de funcionamento da família contemporânea, em cada etapa de seu ciclo de vida, podem contribuir para o acompanhamento terapêutico da criança e do grupo familiar.
Palavras-chave:Aprendizagem, Família, Pedagogos, Psicopedagogos.
ABSTRACT:A Learning is an integrative action as it happens according to the appropriateness of the characteristics that constitute the subject, along with the environment in which it is inserted. The article was aimed at the investigation of how the teacher and educational psychologists who work and clinical pedagogy, understand the learning problems in children, and the role of famíly. especially parents, in these problem .Foi used a qualitative method and instrument as a semi-structured, used in a personal interview conducted with a clinical and psycho with a teaching intern. To try to answer the demands school children and their families must undertake a process of subjective approach that requires both a great investment psychic, not always, successful. This is most apparent when we consider the extent to which contemporary society heiress of modernity, exposes individuals to new information and knowledge, charging them often perform guided imagery on an ideal of perfection. Among the main sources of learning problems, the participants pointed out the strong dependence of the child from the mother, the non-participation escolar destas the lives of children and the current trend of parents delegate to teachers and educational psychologists care of this process. We therefore consider that the educational psychologists know about the modus operandi of the contemporary family, at every stage of their life cycle, may contribute to the therapeutic monitoring of child and family group.
Keywords: Learning, Family, Educators, Psychologists.
1 Introdução
Quando se trata da aprendizagem humana, diferentes teorias tornam-se complementares. O que justifica a psicopedagogia fazer uso, por exemplo, dos conhecimentos da Psicologia, pedagogia, neurologia, fonoaudiologia e da Psicanálise. Utilizamos, portanto, diferentes pólos teóricos, pois estes se mostram complementares quando se trata da aprendizagem humana. Segundo Fernandez, o sujeito aprendente é constituído por corpo, organismo, desejo e inteligência que inter-relacionam-se harmoniosamente.
Assim como em todo processo de aprendizagem estão implicados os quatro níveis (organismo, corpo inteligência e desejo), e não se poderia falar de aprendizagem excluindo algum deles, também no problema de aprendizagem, necessariamente estarão em jogo os quatro níveis em diferentes graus de compromisso. FERNANDÉZ, 1990, p.57.
A inteligência e o desejo podem ser tomados como fatores externos ao sujeito se considerarmos que têm sua existência inter-relacionada entre si e com o ambiente externo, do qual sofre constante interferência.
Para discorrermos sobre a problemática das dificuldades de aprendizagem, é fundamental, ampliar o olhar no sentido de compreender, o que de fato é considerado aprendizagem, e as variadas formas de como elas se processam. Mas não um olhar psicopedagógico institucionalizado apenas, mas, um olhar psicopedagógico sistêmico, que compreende os aspectos do desenvolvimento e os caminhos da aprendizagem e suas relações com o todo. Entender o aluno de maneira multidisciplinar, buscando apoio em várias áreas do conhecimento e analisando a aprendizagem no contexto: escolar, familiar, e nos aspectos: sócio-afetivo. O “não aprender”, é, relativo e depende do aprender o quê?
Para uma intervenção psicopedagógica clínica, a parceria com a família é fator determinante para o sucesso, e às vezes, do insucesso do levantamento diagnóstico e tratamento do paciente.
Assim, é possível entender o jogo e o interjogo das ações de cada um, e seu respectivo grau de comprometimento no processo.
A atuação psicopedagógica, deve busca mediar a manutenção de um sistema familiar, objetivando a relação saudável, e a circulação de informações, possibilitando o equilíbrio de poder entre seus membros, com clareza na definição de papéis e a colocação de limites.
Este artigo teve como objetivo apresentar a realidade vivida na clínica psicopedagógica quanto aos aspectos revelados, as insuficiências que geram as dificuldades não só de aprendizagem, bem como a das relações do indivíduo no seu entorno e no seu em torno.
Enfim, a intervenção psicopedagógica clínica deve ter como proposta buscar não se limitar à compreensão das dificuldades de aprendizagem da leitura, escrita e cálculo matemático, mas, sim ,trabalhar as suficiências, que promovem à aquisição de novos conhecimentos, que dão autonomia e promovem modificações de comportamentos ,que levem à superação,e a acomodação da verdadeira aprendizagem.
Alícia Ferrnández (2001) relata que todo sujeito tem sua modalidade de aprendizagem e os seus meios para construir o próprio conhecimento, e isso significa uma maneira muito pessoal para se dirigir e construir o saber. O objetivo básico do diagnóstico psicopedagógico clínico, é identificar os desvios e os obstáculos básicos no Modelo de Aprendizagem do sujeito que o impedem de crescer na aprendizagem dentro do esperado pelo meio social. (WEISS,2003, p.32).
O diagnóstico psicopedagógico clínico, como em nenhum outro, possui uma propriedade peculiar, quando a partir dele, freqüentemente ocorrem alterações no comportamento do sujeito, provocando na família sentimentos contraditórios e inquietantes, aonde muitas vezes, chegam a acreditar que o sujeito ao invés de melhorar, tornou-se agressivo e agitado, chegando a até desejar interromper o levantamento diagnóstico, e conseqüentemente, o tratamento.
Para (Fernández (1991, p.91), a família que apresenta um membro com problemas de aprendizagem muito freqüentemente funciona como um quadro indissociado, em que qualquer tentativa de diferenciar-se pode ir de encontro a de manda do familiar de anulação da diferença.
Nesse caso, pensar com autonomia, de forma singular e criativa, pode ser tão ameaçador como se implicasse rechaçar, excluir e perder o outro, de perder o lugar. Por isso, a autora propõe a presença da família no diagnóstico de problemas de aprendizagem em crianças e adolescentes, o que permite observar mais rapidamente a existência de "significações sintomáticas localizadas em vínculos em relação ao aprender" (FERNÁNDEZ, 1991, p.92).
Sendo assim, o psicopedagogo precisa de conteúdos teórico-práticos, para ter condições de processar saberes de diferentes áreas do conhecimento para ter embasamento para concluir, se no momento vale à pena ou não, intervir, como intervir, ou se há necessidade de suspender ou até mesmo encerrar, o tratamento.
2 Método
A pesquisa foi realizada do Núcleo de Estudos, Pesquisa, Capacitação e Terapias Integradas- NEPCATI, situado na AV. Maria Quitéria, nº2010, na cidade Feira de Santana-Ba, onde foram entrevistados uma psicopedagoga clínica, uma estagiária em pedagogia, e quatro estagiárias do curso de psicopedagogia institucional, clínica e hospitalar. e três fonoaudiólogos.
O critério de tempo de atuação em Psicopedagogia clínica, visou escolher participantes com uma larga experiência clínica.
Foi permitido além de entrevistar,pesquisar e co-participar com profissionais de fonoaudiologia, e pedagogia , tendo à preocupação em não restringir nossa investigação à profissional de uma única formação acadêmica, possibilitando vários olhares para uma mesma situação. Com isso, pudemos obter reflexões teóricas-práticas mais abrangentes.
A escolha do local e dos profissionais foi feita a partir da autorização da Psicopedagoga Clínica, Cristina Argolo, que abriu campo para estágio, e convite à pesquisa, para quem de fato estivesse interessado no aprimoramento da psicopedagogia na prática clínica, com o olhar relacional sistêmico, através da observação e co-participação.
Instrumentos
Como instrumento de coleta de dados, utilizamos um roteiro semi-estruturado, aplicado em entrevista individual com os participantes.
Nesse roteiro, inicialmente, constaram as perguntas acerca dos dados sócio demográficos das entrevistadas e, em seguida, questões relacionadas aos objetivos da pesquisa, as quais foram distribuídas em blocos de pergunta.
O primeiro, composto por perguntas, que buscou caracterizar os problemas de aprendizagem na visão clínica dos participantes.
Já o segundo bloco, constituído de perguntas, procurando caracterizar os procedimentos de atendimento clínico a crianças e adolescentes com problemas de aprendizagem de leitura e escrita e cálculo matemático.
Procedimentos
Antes da coleta de dados, cada uma das participantes foi contatada para que pudéssemos lhe explicar a natureza desta pesquisa, seu objetivo e método. Esclarecemos, nesse momento, que o conteúdo integral da entrevista estaria à disposição, e que haveria identificação nominal da participante ao longo do trabalho. Após o consentimento, acordamos, então, que os encontros para a realização da pesquisa, seriam todas as quintas feiras, no NEPCATI, enfatizando que as crianças em torno das quais seriam abordadas as questões relativas aos problemas de aprendizagem deveriam fazer parte do seu universo de atendimento clínico.
Todos os participantes assinaram um "termo de consentimento livre e esclarecido", o qual dispôs sobre os pontos acima especificados e permitiu a utilização dos dados para fins de pesquisa.
Após a transcrição das entrevistas, procedemos à sua análise, enfocando os pontos mais relevantes relacionados aos objetivos específicos da pesquisa, isto é: os indicadores para a intervenção clínica nos problemas de aprendizagem; as principais queixas em relação à leitura e à escrita das crianças e as causas atribuídas a elas; os procedimentos diagnósticos e terapêuticos com a criança e a participação da família em tais procedimentos.
Os dados obtidos foram discutidos a partir do embasamento teórico estudado, que se fundamentou, principalmente, em estudiosos da Psicopedagogia clínica, pedagogia e fonoaudiologia.
Lembramos, ainda, que não tivemos o objetivo de generalizar os resultados de nossa pesquisa, uma vez que ela possui uma natureza qualitativa.
Por outro lado, isto nos permitiu tecer algumas considerações finais em relação a importantes questões observadas no conteúdo das entrevistas, que podem contribuir para o trabalho terapêutico com crianças que apresentam problemas de aprendizagem e com suas famílias.
3 Resultados
Observamos alguns tipos de referencial, citados pelas participantes, como diretrizes para a decisão acerca da necessidade de tratamento psicopedagógico: referencial escolar, familiar, psicopedagógico clínico e fonoaudiológico.
O referencial escolar refere-se àquele utilizado pelos participantes tendo por base os resultados obtidos pela criança nas suas produções pedagógicas.
O tratamento, portanto, seria necessário sempre que a criança não produzisse o esperado do ponto de vista das fases do desenvolvimento segundo Piaget.
Assim, a criança pode estar resistindo, com o seu sintoma, à excessiva normatização da escola, enquanto essa fracassa nas suas tentativas pedagógicas de remover o problema de aprendizagem, apelando, muitas vezes, aos especialistas em terapêuticas educativas na esperança de ver o fracasso reparado.
A esse respeito, a psicopedagoga comentou: "A escola quer uma resposta; é uma instituição que não tem muita paciência, não trabalha com o processo de forma sistêmica, por isso não compreende as etapas desse processo".
Já no referencial psicopedagógico, o que determinou a necessidade ou não de uma intervenção terapêutica sobre os problemas de aprendizagem foi à avaliação psicopedagógica realizada pelo profissional em consultório.
Assim, mesmo existindo uma queixa escolar relativa à aprendizagem, onde o diagnóstico clínico-psicopedagógico determinara, de fato, a necessidade de um tratamento, pois, como afirmou o fonoaudiólogo, em certos casos, "algumas orientações à escola e à família são insuficientes para que problemas específicos como, falta de consciência fonológica, vocabulário pobre,troca de letras, possam ser resolvidos", sendo necessário um acompanhamento , mais ostensivo, além do terapêutico, dentre outros.
Não de forma isolada, mas em conjunto com o referencial escolar. Nesse caso, a indicação de tratamento psicopedagógico , e fonoaudiológico é feita a partir da identificação de sentimentos de angústia da criança relacionada à aprendizagem, os quais, segundo as entrevistadas, podem indicar conflitos psicodinâmicos, neurológicos, psicomotores, propiciadores de problemas nessa área.
Na entrevista com a psicopedagoga, alertou para a questão: "Quando o sintoma já se tornou uma angústia, uma ansiedade grande, tanto na vida escolar como na história dessa família, é maior a necessidade de uma intervenção clínica eficaz, e a intervenção terapêutica analítica,com a criança e a família".
Ainda a esse respeito, Kupfer (2001) alerta que, para além da dimensão fenomênica do sintoma, expresso por um sofrimento por parte da criança, há a dimensão inconsciente, na qual transcorrem os conflitos que originam o sintoma e movem os afetos a eles atrelados.
Principais queixas trazidas ao consultório
Os entrevistados citaram três tipos de queixas acerca da aprendizagem da leitura e da escrita, e cálculo matemático: queixas cognitivas, pedagógicas e de ordem afetiva e relacional.
As queixas cognitivas dizem respeito às dificuldades relativas à habilidade da criança em determinadas funções, consideradas importantes para que ela possa aprender a ler ,a escrever, e calcular, desenvolvendo a memória, atenção, concentração, percepção auditiva e visual, compreensão verbal, entre outras.
As queixas pedagógicas são relativas a entraves no desempenho da criança nas tarefas e avaliações escolares, envolvendo a leitura e a escrita, podendo ser consideradas como uma conseqüência das dificuldades cognitivas apresentadas pela criança.
Já as queixas afetivas e relacionais, embora aparentemente não se refiram à leitura e à escrita, são identificadas pelas participantes como intimamente relacionadas aos problemas de aprendizagem.
Dentre essas queixas, os entrevistados destacaram: a recusa ou esquiva aos estudos por parte da criança, demonstrada por choros, gritos, brincadeiras, brigas, durante a execução das tarefas; a falta de limites e regras na família, dificultando a capacidade da criança para lidar com o erro e a frustração no processo de aprendizagem; a pouca autonomia para pensar e realizar tarefas, além da baixa auto-estima.
Notamos, assim, que, na visão dos participantes desta pesquisa e de autores como Souza (1995), Barone (1996) e Bossa (2002), para que a criança aprenda sem maiores dificuldades é preciso que apresente também condições subjetivas.
Causas atribuídas aos problemas de aprendizagem
O papel da família no desenvolvimento e aprendizagem da criança todos os entrevistados citaram aspectos psicodinâmicos da família como possíveis dificultadores da aprendizagem da criança.
Dentre eles, salientamos a dependência afetiva da criança em relação à mãe, aliada a esporádica intervenção, intermediação e apoio do pai, causando na mãe, não raro, sentimento de superproteção, engessando o filho no lugar do não aprender.
Para os participantes, esse tipo de situação gera problemas para a resolução de alguns conflitos próprios da fase edípica do desenvolvimento da criança, além de dificultar a sua capacidade para lidar com os limites e a frustração de modo mais autônomo.
Sobre isso, nossa psicopedadoga afirmou que "é como se a libido não estivesse disponível para fazer outros investimentos nos estudos".
Para os entrevistados, a dependência materna evidencia-se nas questões relativas à aprendizagem porque as mães continuam, ainda hoje, assumindo grande parte do papel cultural de lidar com a responsabilidade da casa e a educação dos filhos.
É a partir daí que a criança descobrirá outros objetos de investimento subjetivo, inseridos na cultura, como, por exemplo, os conhecimentos compartilhados socialmente., buscando companhias que se lhes assemelhe na dificuldades. Também foram ressaltados, em algumas entrevistas, determinados aspectos socioculturais que podem intervir na dinâmica familiar e transformar-se em causas para as dificuldades de aprendizagem, como, por exemplo, as pressões sociais por melhor desempenho escolar da criança e por maior eficiência dos pais na educação dos filhos. Diante dessas pressões, os participantes disseram que, muitas vezes, a criança mostra-se pouco madura para lidar com as intensas demandas de aprendizagem que lhe chegam, por acharem desinteressantes, por não serem devidamente estimuladas tanto em casa quanto na escola.
Por fim, os participantes citaram aspectos da interação entre a escola, a criança e a família como possíveis fontes de problemas para a aprendizagem.
Assim, outra entrevistada destacou a troca constante de escola e a falta de sintonia entre os valores da família e da escola: "Às vezes, na família, a criança tem um convívio mais aberto, mas estuda numa escola tradicional, então há um choque". Ou vice versa.
Já a estagiária de pedagogia chamou a atenção para a relação entre professor e aluno: "A partir do momento em que essa relação, esse vínculo afetivo, não se constitui de uma forma saudável, vai influenciar certamente com um peso grande na construção das dificuldades de aprendizagem".
Em geral, os participantes afirmaram, ainda, que a aprendizagem não pode ser uma tarefa exclusiva da escola ou do profissional que atende a criança na clínica; os pais precisam participar, acompanhando e estimulando o processo da criança.
De acordo com os fonoaudiólogos: "A pouca estimulação da família em relação à leitura, à valorização disso, é uma grande dificuldade que as crianças acabam encontrando". Em todas as entrevistas destacou –se que "os pais precisam compreender o papel e a função de cada membro na dinâmica familiar, entendendo por que aquele filho foi o escolhido' para “sintomatizar problemas da família revelado na não aprendizagem. “Aí, sim, eles vão, junto com os profissionais, contribuir para que a criança saia desse lugar de não aprender".
Vemos, assim, que, de modo geral, as entrevistadas apontaram fatores para a não aprendizagem que se aproximam daqueles propostos por Pain (1992) e Weiss (1994), isto é, fatores internos e externos ao sujeito e sua família.
Diagnóstico psicopedagógico
Quanto ao diagnóstico dos problemas de aprendizagem da leitura e da escrita, todas as participantes indicaram a necessidade de analisar alguns dos fatores descritos no tópico anterior.
Assim, realizam uma análise das condições cognitivas, pedagógicas e psicodinâmicas da criança para com a aprendizagem.
Além disso, citaram a importância de, eventualmente, investigar aspectos orgânicos, como as condições neurológicas, auditivas e visuais da criança.
Todos os entrevistados, destacaram, igualmente, a investigação da dinâmica da criança na escola, particularmente sua relação com os colegas, com os professores, e com a própria escola, como parte do processo diagnóstico.
Dentre os recursos técnicos para a investigação dos problemas de aprendizagem, os entrevistados afirmaram utilizar, em geral, atividades lúdicas e pedagógicas, além de testes e exames cognitivos e projetivos, onde possibilita a criança e o adolescente se revelar em sua totalidade consciente, à partir do seu inconsciente.
Um dado a destacar é que a investigação das condições cognitivas e pedagógicas da criança para a aprendizagem foi o que mais se destacou na descrição dos procedimentos diagnósticos.
Embora todas as participantes tenham indicado os aspectos psicodinâmicos da criança e da família como possíveis causas da não aprendizagem durante a alfabetização, a análise de tais aspectos não foi um ponto enfatizado, inicialmente, pela maioria das participantes.
Apesar disso, a família participa do processo diagnóstico através de sessões que seguem, em geral, a proposta de autores como Fernàndez (1991), Pain (1992) e Weiss (1994), isto é, um primeiro encontro para escuta do motivo da consulta ou queixa; sessões de anamnese para o levantamento do histórico da criança em termos de desenvolvimento e, após os atendimentos à criança, sessões para apresentação à família das principais hipóteses diagnósticas e sugestões de encaminhamento.
Tratamento psicopedagógico
Assim como no diagnóstico, os recursos utilizados pelas participantes durante o tratamento para facilitar as intervenções psicopedagógicas em torno da demanda da criança na leitura e escrita, e no campo matemático, são, em geral, atividades lúdicas e pedagógicas, as quais visam à estimulação cognitiva e afetiva da criança.
A família, por sua vez, é acompanhada tanto por meio de sessões previamente marcadas pelas profissionais, como por solicitação dos próprios pais.
Nas duas situações, geralmente, tais atendimentos ocorrem de maneira alternada, ora com os pais e a criança, ora separadamente.
De modo geral, notamos que o objetivo desses encontros é orientar os pais , pontuar avanços, e trocar informações.
4 Discussão
Dentre os principais entraves ao tratamento psicopedagógico, observados, as estagiárias participantes destacaram a resistência dos pais em compreender a importância e a dimensão da ajuda profissional para o seu filho, o que, segundo elas, denota a dificuldade de reconhecer que por mais das vezes a falha reside neles próprios.
Em conseqüência disso, muitas vezes, ao iniciarem o tratamento, demonstram uma intensa ansiedade por resultados rápidos, ocasionando mais estresse sobre a criança, a ponto de dificultar o processo psicopedagógico. Sobre isto, todos os entrevistados concordam que "uma das situações mais difíceis é lidar com a ansiedade dos pais”e “desconstruir sentimentos de culpa”.
“Às vezes a escola recomenda e indica a necessidade de acompanhamento desde a pré-escola, mas os pais não acatam a orientação, e, quando a criança está nas últimas, os pais mudam para escolas mais fracas e trazem pra a clínica desejando que o profissional faça milagres".
Devido às questões acima expostas, todos os participantes destacaram a importância de realizar, nos seus atendimentos, intervenções terapêuticas com a família, para estabelecer-se responsabilidades, planos de ação em casa ,visando a colocação de limites, respeito a individualidade do outro, para que o tratamento psicopedagógico possa alcançar melhores resultado.
As questões da dinâmica familiar, entretanto, foram apontadas, de forma unânime, como uma das principais fontes de problemas na aprendizagem, em especial no que se refere à dificuldade da criança para realizar suas atividades com maior autonomia, principalmente em relação à mãe, agravada pela pouca intervenção do pai na relação entre mãe e filho.
Assim, muitas vezes, sua participação na educação e no processo de aprendizagem escolar dos filhos torrna-se negligente.
Ao refletirmos sobre os aspectos da dinâmica familiar, pareceu-nos significativo que os profissionais, em sua fala, que é preciso estar atentos às novas configurações de família, adequando os enquadramentos diagnósticos e terapêuticos de modo a facilitar a compreensão das particularidades de seu funcionamento e seus reflexos no desenvolvimento das aprendizagens da criança.
5 Considerações Finais
Na opinião dos participantes e de teóricos citados neste artigo, algumas metodologias e exigências sociais de determinadas escolas, revelam-se, distantes da realidade viva por parte da criança e de sua família, gerando sensação de transtorno, doença, naquelas que não conseguem corresponder ao que é esperado delas pela escola e, algumas vezes, até pela própria família.
Consideramos que, tanto no diagnóstico quanto no tratamento de crianças com problemas de aprendizagem, os profissionais entrevistados sentem que devem ter grande preocupação em propor análises mais detalhadas, e equipes multidisciplinar, para favorecer o ensino-aprendizagem, de forma que não permaneça, a dicotomia entre a saúde e a educação, a clínica e a escola, a família e o psicopedagogo.
Faz parte da ética profissional do psicopedagogo clínico, suas práticas na clínica, como espaço para enquadramento e ajustamento de aspectos que envolvam tanto a criança ,quanto o seu grupo familiar, e a escola, que ao no nosso ver, encontram-se, irremediavelmente, entrelaçados no processo de desenvolvimento cognitivo e de aprendizagem da criança e do adolescente.
Para isso, tornam-se fundamentais a capacitação e o apoio psicopedagógico aos professores, além da escuta da família, de modo a facilitar reflexões entre seus membros que possam contribuir para a construção de um espaço de saúde em torno da aprendizagem de valor.
Referências Bibliográficas
BARONE, L. M. C. Algumas contribuições da psicanálise para a avaliação psicopedagógica. In V. Oliveira & N. Bossa (Orgs.). Avaliação psicopedagógica da criança de zero a seis anos. 3a ed., Petrópolis: Vozes. 1996.
BOSSA, N. A. Fracasso escolar: um olhar psicopedagógico. Porto Alegre: Artmed. 2002.
FERNÁNDEZ A.. A inteligência aprisionada: abordagem psicopedagógica clínica da criança e sua família . Porto Alegre: Artes Médicas.
KUPFER, M. C.. Educação para o futuro: psicanálise e educação. Vozes . São Paulo2001.
MARQUEZAN, F. F., & Souza, C. R. S. Fracasso escolar na alfabetização: um olhar a partir da psicopedagogia. Psicopedagogia on line: educação & saúde mental. Acesso em 19 de dezembro de 2003, disponível em: http://www.picopedagogia.com.br/artigo
PAIN, S. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas. 1992.
PINCUS, L., & Dare, C. Psicodinâmica da família (2a ed., pp.68-89). Porto Alegre: Artes Médicas. 1987.
SALVARI, L. F. C. A aprendizagem e suas dificuldades em uma visão clínica. Interlocuções: Revista de Psicologia da Unicamp, 3 (1),p. 44-64. , 2003.
SOUZA, A. S. L.. Pensando a inibição intelectual: perspectiva psicanalítica e proposta diagnóstica (pp.35-56). São Paulo: Casa do Psicólogo. 1995.
WEISS, M. L. L. Psicopedagogia clínica: uma visão diagnóstica . Porto Alegre: Artes Médicas. 1994.
LednalvaOliveira
RESUMO: A aprendizagem é uma ação integradora uma vez que acontece segundo a adequação das diferentes características que constituem o sujeito, somadas ao ambiente em que está inserido. O artigo teve como objetivo a investigação de como os pedagogo e psicopedagogos que atuam em psicopedagogia clínica, compreendem os problemas de aprendizagem em crianças, e o papel da família.Como vêem , especialmente os pais ,nos referidos problemas.Foi utilizado um método qualitativo tendo como instrumento um roteiro semi-estruturado,utilizado em uma entrevista individual, realizada com uma psicopedagoga clínica e com uma estagiária de pedagogia. Para tentar responder a demandas escolares, a criança e sua família precisam empreender um processo de elaboração subjetiva que exige de ambas um grande investimento psíquico que, nem sempre, é bem sucedido. Isso fica mais evidente quando consideramos a intensidade com que a sociedade contemporânea, herdeira da modernidade, expõe os indivíduos a novas informações e conhecimentos, cobrando-lhes, com freqüência, um desempenho pautado em um ideal imaginário de perfeição. Dentre as principais fontes de problemas de aprendizagem, as participantes apontaram a grande dependência da criança em relação à mãe, a não participação escolar destas na vida dos filhos e a tendência atual dos pais em delegar aos educadores e psicopedagogos os cuidados desse processo. Assim, consideramos que os conhecimentos psicopedagogos sobre as formas de funcionamento da família contemporânea, em cada etapa de seu ciclo de vida, podem contribuir para o acompanhamento terapêutico da criança e do grupo familiar.
Palavras-chave:Aprendizagem, Família, Pedagogos, Psicopedagogos.
ABSTRACT:A Learning is an integrative action as it happens according to the appropriateness of the characteristics that constitute the subject, along with the environment in which it is inserted. The article was aimed at the investigation of how the teacher and educational psychologists who work and clinical pedagogy, understand the learning problems in children, and the role of famíly. especially parents, in these problem .Foi used a qualitative method and instrument as a semi-structured, used in a personal interview conducted with a clinical and psycho with a teaching intern. To try to answer the demands school children and their families must undertake a process of subjective approach that requires both a great investment psychic, not always, successful. This is most apparent when we consider the extent to which contemporary society heiress of modernity, exposes individuals to new information and knowledge, charging them often perform guided imagery on an ideal of perfection. Among the main sources of learning problems, the participants pointed out the strong dependence of the child from the mother, the non-participation escolar destas the lives of children and the current trend of parents delegate to teachers and educational psychologists care of this process. We therefore consider that the educational psychologists know about the modus operandi of the contemporary family, at every stage of their life cycle, may contribute to the therapeutic monitoring of child and family group.
Keywords: Learning, Family, Educators, Psychologists.
1 Introdução
Quando se trata da aprendizagem humana, diferentes teorias tornam-se complementares. O que justifica a psicopedagogia fazer uso, por exemplo, dos conhecimentos da Psicologia, pedagogia, neurologia, fonoaudiologia e da Psicanálise. Utilizamos, portanto, diferentes pólos teóricos, pois estes se mostram complementares quando se trata da aprendizagem humana. Segundo Fernandez, o sujeito aprendente é constituído por corpo, organismo, desejo e inteligência que inter-relacionam-se harmoniosamente.
Assim como em todo processo de aprendizagem estão implicados os quatro níveis (organismo, corpo inteligência e desejo), e não se poderia falar de aprendizagem excluindo algum deles, também no problema de aprendizagem, necessariamente estarão em jogo os quatro níveis em diferentes graus de compromisso. FERNANDÉZ, 1990, p.57.
A inteligência e o desejo podem ser tomados como fatores externos ao sujeito se considerarmos que têm sua existência inter-relacionada entre si e com o ambiente externo, do qual sofre constante interferência.
Para discorrermos sobre a problemática das dificuldades de aprendizagem, é fundamental, ampliar o olhar no sentido de compreender, o que de fato é considerado aprendizagem, e as variadas formas de como elas se processam. Mas não um olhar psicopedagógico institucionalizado apenas, mas, um olhar psicopedagógico sistêmico, que compreende os aspectos do desenvolvimento e os caminhos da aprendizagem e suas relações com o todo. Entender o aluno de maneira multidisciplinar, buscando apoio em várias áreas do conhecimento e analisando a aprendizagem no contexto: escolar, familiar, e nos aspectos: sócio-afetivo. O “não aprender”, é, relativo e depende do aprender o quê?
Para uma intervenção psicopedagógica clínica, a parceria com a família é fator determinante para o sucesso, e às vezes, do insucesso do levantamento diagnóstico e tratamento do paciente.
Assim, é possível entender o jogo e o interjogo das ações de cada um, e seu respectivo grau de comprometimento no processo.
A atuação psicopedagógica, deve busca mediar a manutenção de um sistema familiar, objetivando a relação saudável, e a circulação de informações, possibilitando o equilíbrio de poder entre seus membros, com clareza na definição de papéis e a colocação de limites.
Este artigo teve como objetivo apresentar a realidade vivida na clínica psicopedagógica quanto aos aspectos revelados, as insuficiências que geram as dificuldades não só de aprendizagem, bem como a das relações do indivíduo no seu entorno e no seu em torno.
Enfim, a intervenção psicopedagógica clínica deve ter como proposta buscar não se limitar à compreensão das dificuldades de aprendizagem da leitura, escrita e cálculo matemático, mas, sim ,trabalhar as suficiências, que promovem à aquisição de novos conhecimentos, que dão autonomia e promovem modificações de comportamentos ,que levem à superação,e a acomodação da verdadeira aprendizagem.
Alícia Ferrnández (2001) relata que todo sujeito tem sua modalidade de aprendizagem e os seus meios para construir o próprio conhecimento, e isso significa uma maneira muito pessoal para se dirigir e construir o saber. O objetivo básico do diagnóstico psicopedagógico clínico, é identificar os desvios e os obstáculos básicos no Modelo de Aprendizagem do sujeito que o impedem de crescer na aprendizagem dentro do esperado pelo meio social. (WEISS,2003, p.32).
O diagnóstico psicopedagógico clínico, como em nenhum outro, possui uma propriedade peculiar, quando a partir dele, freqüentemente ocorrem alterações no comportamento do sujeito, provocando na família sentimentos contraditórios e inquietantes, aonde muitas vezes, chegam a acreditar que o sujeito ao invés de melhorar, tornou-se agressivo e agitado, chegando a até desejar interromper o levantamento diagnóstico, e conseqüentemente, o tratamento.
Para (Fernández (1991, p.91), a família que apresenta um membro com problemas de aprendizagem muito freqüentemente funciona como um quadro indissociado, em que qualquer tentativa de diferenciar-se pode ir de encontro a de manda do familiar de anulação da diferença.
Nesse caso, pensar com autonomia, de forma singular e criativa, pode ser tão ameaçador como se implicasse rechaçar, excluir e perder o outro, de perder o lugar. Por isso, a autora propõe a presença da família no diagnóstico de problemas de aprendizagem em crianças e adolescentes, o que permite observar mais rapidamente a existência de "significações sintomáticas localizadas em vínculos em relação ao aprender" (FERNÁNDEZ, 1991, p.92).
Sendo assim, o psicopedagogo precisa de conteúdos teórico-práticos, para ter condições de processar saberes de diferentes áreas do conhecimento para ter embasamento para concluir, se no momento vale à pena ou não, intervir, como intervir, ou se há necessidade de suspender ou até mesmo encerrar, o tratamento.
2 Método
A pesquisa foi realizada do Núcleo de Estudos, Pesquisa, Capacitação e Terapias Integradas- NEPCATI, situado na AV. Maria Quitéria, nº2010, na cidade Feira de Santana-Ba, onde foram entrevistados uma psicopedagoga clínica, uma estagiária em pedagogia, e quatro estagiárias do curso de psicopedagogia institucional, clínica e hospitalar. e três fonoaudiólogos.
O critério de tempo de atuação em Psicopedagogia clínica, visou escolher participantes com uma larga experiência clínica.
Foi permitido além de entrevistar,pesquisar e co-participar com profissionais de fonoaudiologia, e pedagogia , tendo à preocupação em não restringir nossa investigação à profissional de uma única formação acadêmica, possibilitando vários olhares para uma mesma situação. Com isso, pudemos obter reflexões teóricas-práticas mais abrangentes.
A escolha do local e dos profissionais foi feita a partir da autorização da Psicopedagoga Clínica, Cristina Argolo, que abriu campo para estágio, e convite à pesquisa, para quem de fato estivesse interessado no aprimoramento da psicopedagogia na prática clínica, com o olhar relacional sistêmico, através da observação e co-participação.
Instrumentos
Como instrumento de coleta de dados, utilizamos um roteiro semi-estruturado, aplicado em entrevista individual com os participantes.
Nesse roteiro, inicialmente, constaram as perguntas acerca dos dados sócio demográficos das entrevistadas e, em seguida, questões relacionadas aos objetivos da pesquisa, as quais foram distribuídas em blocos de pergunta.
O primeiro, composto por perguntas, que buscou caracterizar os problemas de aprendizagem na visão clínica dos participantes.
Já o segundo bloco, constituído de perguntas, procurando caracterizar os procedimentos de atendimento clínico a crianças e adolescentes com problemas de aprendizagem de leitura e escrita e cálculo matemático.
Procedimentos
Antes da coleta de dados, cada uma das participantes foi contatada para que pudéssemos lhe explicar a natureza desta pesquisa, seu objetivo e método. Esclarecemos, nesse momento, que o conteúdo integral da entrevista estaria à disposição, e que haveria identificação nominal da participante ao longo do trabalho. Após o consentimento, acordamos, então, que os encontros para a realização da pesquisa, seriam todas as quintas feiras, no NEPCATI, enfatizando que as crianças em torno das quais seriam abordadas as questões relativas aos problemas de aprendizagem deveriam fazer parte do seu universo de atendimento clínico.
Todos os participantes assinaram um "termo de consentimento livre e esclarecido", o qual dispôs sobre os pontos acima especificados e permitiu a utilização dos dados para fins de pesquisa.
Após a transcrição das entrevistas, procedemos à sua análise, enfocando os pontos mais relevantes relacionados aos objetivos específicos da pesquisa, isto é: os indicadores para a intervenção clínica nos problemas de aprendizagem; as principais queixas em relação à leitura e à escrita das crianças e as causas atribuídas a elas; os procedimentos diagnósticos e terapêuticos com a criança e a participação da família em tais procedimentos.
Os dados obtidos foram discutidos a partir do embasamento teórico estudado, que se fundamentou, principalmente, em estudiosos da Psicopedagogia clínica, pedagogia e fonoaudiologia.
Lembramos, ainda, que não tivemos o objetivo de generalizar os resultados de nossa pesquisa, uma vez que ela possui uma natureza qualitativa.
Por outro lado, isto nos permitiu tecer algumas considerações finais em relação a importantes questões observadas no conteúdo das entrevistas, que podem contribuir para o trabalho terapêutico com crianças que apresentam problemas de aprendizagem e com suas famílias.
3 Resultados
Observamos alguns tipos de referencial, citados pelas participantes, como diretrizes para a decisão acerca da necessidade de tratamento psicopedagógico: referencial escolar, familiar, psicopedagógico clínico e fonoaudiológico.
O referencial escolar refere-se àquele utilizado pelos participantes tendo por base os resultados obtidos pela criança nas suas produções pedagógicas.
O tratamento, portanto, seria necessário sempre que a criança não produzisse o esperado do ponto de vista das fases do desenvolvimento segundo Piaget.
Assim, a criança pode estar resistindo, com o seu sintoma, à excessiva normatização da escola, enquanto essa fracassa nas suas tentativas pedagógicas de remover o problema de aprendizagem, apelando, muitas vezes, aos especialistas em terapêuticas educativas na esperança de ver o fracasso reparado.
A esse respeito, a psicopedagoga comentou: "A escola quer uma resposta; é uma instituição que não tem muita paciência, não trabalha com o processo de forma sistêmica, por isso não compreende as etapas desse processo".
Já no referencial psicopedagógico, o que determinou a necessidade ou não de uma intervenção terapêutica sobre os problemas de aprendizagem foi à avaliação psicopedagógica realizada pelo profissional em consultório.
Assim, mesmo existindo uma queixa escolar relativa à aprendizagem, onde o diagnóstico clínico-psicopedagógico determinara, de fato, a necessidade de um tratamento, pois, como afirmou o fonoaudiólogo, em certos casos, "algumas orientações à escola e à família são insuficientes para que problemas específicos como, falta de consciência fonológica, vocabulário pobre,troca de letras, possam ser resolvidos", sendo necessário um acompanhamento , mais ostensivo, além do terapêutico, dentre outros.
Não de forma isolada, mas em conjunto com o referencial escolar. Nesse caso, a indicação de tratamento psicopedagógico , e fonoaudiológico é feita a partir da identificação de sentimentos de angústia da criança relacionada à aprendizagem, os quais, segundo as entrevistadas, podem indicar conflitos psicodinâmicos, neurológicos, psicomotores, propiciadores de problemas nessa área.
Na entrevista com a psicopedagoga, alertou para a questão: "Quando o sintoma já se tornou uma angústia, uma ansiedade grande, tanto na vida escolar como na história dessa família, é maior a necessidade de uma intervenção clínica eficaz, e a intervenção terapêutica analítica,com a criança e a família".
Ainda a esse respeito, Kupfer (2001) alerta que, para além da dimensão fenomênica do sintoma, expresso por um sofrimento por parte da criança, há a dimensão inconsciente, na qual transcorrem os conflitos que originam o sintoma e movem os afetos a eles atrelados.
Principais queixas trazidas ao consultório
Os entrevistados citaram três tipos de queixas acerca da aprendizagem da leitura e da escrita, e cálculo matemático: queixas cognitivas, pedagógicas e de ordem afetiva e relacional.
As queixas cognitivas dizem respeito às dificuldades relativas à habilidade da criança em determinadas funções, consideradas importantes para que ela possa aprender a ler ,a escrever, e calcular, desenvolvendo a memória, atenção, concentração, percepção auditiva e visual, compreensão verbal, entre outras.
As queixas pedagógicas são relativas a entraves no desempenho da criança nas tarefas e avaliações escolares, envolvendo a leitura e a escrita, podendo ser consideradas como uma conseqüência das dificuldades cognitivas apresentadas pela criança.
Já as queixas afetivas e relacionais, embora aparentemente não se refiram à leitura e à escrita, são identificadas pelas participantes como intimamente relacionadas aos problemas de aprendizagem.
Dentre essas queixas, os entrevistados destacaram: a recusa ou esquiva aos estudos por parte da criança, demonstrada por choros, gritos, brincadeiras, brigas, durante a execução das tarefas; a falta de limites e regras na família, dificultando a capacidade da criança para lidar com o erro e a frustração no processo de aprendizagem; a pouca autonomia para pensar e realizar tarefas, além da baixa auto-estima.
Notamos, assim, que, na visão dos participantes desta pesquisa e de autores como Souza (1995), Barone (1996) e Bossa (2002), para que a criança aprenda sem maiores dificuldades é preciso que apresente também condições subjetivas.
Causas atribuídas aos problemas de aprendizagem
O papel da família no desenvolvimento e aprendizagem da criança todos os entrevistados citaram aspectos psicodinâmicos da família como possíveis dificultadores da aprendizagem da criança.
Dentre eles, salientamos a dependência afetiva da criança em relação à mãe, aliada a esporádica intervenção, intermediação e apoio do pai, causando na mãe, não raro, sentimento de superproteção, engessando o filho no lugar do não aprender.
Para os participantes, esse tipo de situação gera problemas para a resolução de alguns conflitos próprios da fase edípica do desenvolvimento da criança, além de dificultar a sua capacidade para lidar com os limites e a frustração de modo mais autônomo.
Sobre isso, nossa psicopedadoga afirmou que "é como se a libido não estivesse disponível para fazer outros investimentos nos estudos".
Para os entrevistados, a dependência materna evidencia-se nas questões relativas à aprendizagem porque as mães continuam, ainda hoje, assumindo grande parte do papel cultural de lidar com a responsabilidade da casa e a educação dos filhos.
É a partir daí que a criança descobrirá outros objetos de investimento subjetivo, inseridos na cultura, como, por exemplo, os conhecimentos compartilhados socialmente., buscando companhias que se lhes assemelhe na dificuldades. Também foram ressaltados, em algumas entrevistas, determinados aspectos socioculturais que podem intervir na dinâmica familiar e transformar-se em causas para as dificuldades de aprendizagem, como, por exemplo, as pressões sociais por melhor desempenho escolar da criança e por maior eficiência dos pais na educação dos filhos. Diante dessas pressões, os participantes disseram que, muitas vezes, a criança mostra-se pouco madura para lidar com as intensas demandas de aprendizagem que lhe chegam, por acharem desinteressantes, por não serem devidamente estimuladas tanto em casa quanto na escola.
Por fim, os participantes citaram aspectos da interação entre a escola, a criança e a família como possíveis fontes de problemas para a aprendizagem.
Assim, outra entrevistada destacou a troca constante de escola e a falta de sintonia entre os valores da família e da escola: "Às vezes, na família, a criança tem um convívio mais aberto, mas estuda numa escola tradicional, então há um choque". Ou vice versa.
Já a estagiária de pedagogia chamou a atenção para a relação entre professor e aluno: "A partir do momento em que essa relação, esse vínculo afetivo, não se constitui de uma forma saudável, vai influenciar certamente com um peso grande na construção das dificuldades de aprendizagem".
Em geral, os participantes afirmaram, ainda, que a aprendizagem não pode ser uma tarefa exclusiva da escola ou do profissional que atende a criança na clínica; os pais precisam participar, acompanhando e estimulando o processo da criança.
De acordo com os fonoaudiólogos: "A pouca estimulação da família em relação à leitura, à valorização disso, é uma grande dificuldade que as crianças acabam encontrando". Em todas as entrevistas destacou –se que "os pais precisam compreender o papel e a função de cada membro na dinâmica familiar, entendendo por que aquele filho foi o escolhido' para “sintomatizar problemas da família revelado na não aprendizagem. “Aí, sim, eles vão, junto com os profissionais, contribuir para que a criança saia desse lugar de não aprender".
Vemos, assim, que, de modo geral, as entrevistadas apontaram fatores para a não aprendizagem que se aproximam daqueles propostos por Pain (1992) e Weiss (1994), isto é, fatores internos e externos ao sujeito e sua família.
Diagnóstico psicopedagógico
Quanto ao diagnóstico dos problemas de aprendizagem da leitura e da escrita, todas as participantes indicaram a necessidade de analisar alguns dos fatores descritos no tópico anterior.
Assim, realizam uma análise das condições cognitivas, pedagógicas e psicodinâmicas da criança para com a aprendizagem.
Além disso, citaram a importância de, eventualmente, investigar aspectos orgânicos, como as condições neurológicas, auditivas e visuais da criança.
Todos os entrevistados, destacaram, igualmente, a investigação da dinâmica da criança na escola, particularmente sua relação com os colegas, com os professores, e com a própria escola, como parte do processo diagnóstico.
Dentre os recursos técnicos para a investigação dos problemas de aprendizagem, os entrevistados afirmaram utilizar, em geral, atividades lúdicas e pedagógicas, além de testes e exames cognitivos e projetivos, onde possibilita a criança e o adolescente se revelar em sua totalidade consciente, à partir do seu inconsciente.
Um dado a destacar é que a investigação das condições cognitivas e pedagógicas da criança para a aprendizagem foi o que mais se destacou na descrição dos procedimentos diagnósticos.
Embora todas as participantes tenham indicado os aspectos psicodinâmicos da criança e da família como possíveis causas da não aprendizagem durante a alfabetização, a análise de tais aspectos não foi um ponto enfatizado, inicialmente, pela maioria das participantes.
Apesar disso, a família participa do processo diagnóstico através de sessões que seguem, em geral, a proposta de autores como Fernàndez (1991), Pain (1992) e Weiss (1994), isto é, um primeiro encontro para escuta do motivo da consulta ou queixa; sessões de anamnese para o levantamento do histórico da criança em termos de desenvolvimento e, após os atendimentos à criança, sessões para apresentação à família das principais hipóteses diagnósticas e sugestões de encaminhamento.
Tratamento psicopedagógico
Assim como no diagnóstico, os recursos utilizados pelas participantes durante o tratamento para facilitar as intervenções psicopedagógicas em torno da demanda da criança na leitura e escrita, e no campo matemático, são, em geral, atividades lúdicas e pedagógicas, as quais visam à estimulação cognitiva e afetiva da criança.
A família, por sua vez, é acompanhada tanto por meio de sessões previamente marcadas pelas profissionais, como por solicitação dos próprios pais.
Nas duas situações, geralmente, tais atendimentos ocorrem de maneira alternada, ora com os pais e a criança, ora separadamente.
De modo geral, notamos que o objetivo desses encontros é orientar os pais , pontuar avanços, e trocar informações.
4 Discussão
Dentre os principais entraves ao tratamento psicopedagógico, observados, as estagiárias participantes destacaram a resistência dos pais em compreender a importância e a dimensão da ajuda profissional para o seu filho, o que, segundo elas, denota a dificuldade de reconhecer que por mais das vezes a falha reside neles próprios.
Em conseqüência disso, muitas vezes, ao iniciarem o tratamento, demonstram uma intensa ansiedade por resultados rápidos, ocasionando mais estresse sobre a criança, a ponto de dificultar o processo psicopedagógico. Sobre isto, todos os entrevistados concordam que "uma das situações mais difíceis é lidar com a ansiedade dos pais”e “desconstruir sentimentos de culpa”.
“Às vezes a escola recomenda e indica a necessidade de acompanhamento desde a pré-escola, mas os pais não acatam a orientação, e, quando a criança está nas últimas, os pais mudam para escolas mais fracas e trazem pra a clínica desejando que o profissional faça milagres".
Devido às questões acima expostas, todos os participantes destacaram a importância de realizar, nos seus atendimentos, intervenções terapêuticas com a família, para estabelecer-se responsabilidades, planos de ação em casa ,visando a colocação de limites, respeito a individualidade do outro, para que o tratamento psicopedagógico possa alcançar melhores resultado.
As questões da dinâmica familiar, entretanto, foram apontadas, de forma unânime, como uma das principais fontes de problemas na aprendizagem, em especial no que se refere à dificuldade da criança para realizar suas atividades com maior autonomia, principalmente em relação à mãe, agravada pela pouca intervenção do pai na relação entre mãe e filho.
Assim, muitas vezes, sua participação na educação e no processo de aprendizagem escolar dos filhos torrna-se negligente.
Ao refletirmos sobre os aspectos da dinâmica familiar, pareceu-nos significativo que os profissionais, em sua fala, que é preciso estar atentos às novas configurações de família, adequando os enquadramentos diagnósticos e terapêuticos de modo a facilitar a compreensão das particularidades de seu funcionamento e seus reflexos no desenvolvimento das aprendizagens da criança.
5 Considerações Finais
Na opinião dos participantes e de teóricos citados neste artigo, algumas metodologias e exigências sociais de determinadas escolas, revelam-se, distantes da realidade viva por parte da criança e de sua família, gerando sensação de transtorno, doença, naquelas que não conseguem corresponder ao que é esperado delas pela escola e, algumas vezes, até pela própria família.
Consideramos que, tanto no diagnóstico quanto no tratamento de crianças com problemas de aprendizagem, os profissionais entrevistados sentem que devem ter grande preocupação em propor análises mais detalhadas, e equipes multidisciplinar, para favorecer o ensino-aprendizagem, de forma que não permaneça, a dicotomia entre a saúde e a educação, a clínica e a escola, a família e o psicopedagogo.
Faz parte da ética profissional do psicopedagogo clínico, suas práticas na clínica, como espaço para enquadramento e ajustamento de aspectos que envolvam tanto a criança ,quanto o seu grupo familiar, e a escola, que ao no nosso ver, encontram-se, irremediavelmente, entrelaçados no processo de desenvolvimento cognitivo e de aprendizagem da criança e do adolescente.
Para isso, tornam-se fundamentais a capacitação e o apoio psicopedagógico aos professores, além da escuta da família, de modo a facilitar reflexões entre seus membros que possam contribuir para a construção de um espaço de saúde em torno da aprendizagem de valor.
Referências Bibliográficas
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WEISS, M. L. L. Psicopedagogia clínica: uma visão diagnóstica . Porto Alegre: Artes Médicas. 1994.
19/12/2011
A REGULAMENTAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO
Nívea Maria C. de Fabrício
Presidente da ABPp fala sobre a regulamentação da profissão
Como está a regulamentação da profissão de psicopedagogo?
Está em Brasília obedecendo aos trâmites legais, sob o comando do Deputado Barbosa neto e, está na comicidade em fóruns, encontros, simpósios, ou seja, em todas as situações e momentos em que possamos refletir e trocar, sobre o papel e campo de atuação do Psicopedagogo; da Psicopedagogia. Nosso processo de regulamentação passa pela legalização e legitimação. A sociedade legitima e a lei legaliza. Na minha concepção , a Psicopedagogia é a profissão do terceiro milênio, pelo menos no próximo século, portanto, sua legitimação é mais decorrente. Já, a legalização, pelo aspecto burocrático, e pela dinâmica democrática que deve incorporar, o ritmo é diferenciado, talvez mais lento, principalmente porque estamos reivindicando alto novo no Brasil. Nosso projeto de regulamentação será de especialidade e não de graduação. Isso é inédito! O Conselho Nacional vem discutindo o assunto desde 92. O projeto já foi aprovado na comissão do trabalho. Já houve audiência pública da comissão de educação; estamos aguardando o julgamento. A seguir vem a comissão de justiça. O que eu estou sentindo de importante, é que temos o Brasil inteiro se mobilizando e, nossa função, é mostrar à comissão da Educação nossa importância e a necessidade da regulamentação.
Por que vem crescendo a necessidade do psicopedagogo nas instituições e na clínica?
Porque o Psicopedagogo trabalha essencialmente com o fenômeno aprendizagem. Aprendizagem em seu processo maior, num processo educativo na vida, na sociedade, nas relações.
A educação está fragmentada, mas exigindo capacidades integradoras. Aprender a aprender está muito difícil. A aprendizagem está muito difícil. Em uma palestra, em Goiás, Marina Colassante, disse: "O jovem, a criança, precisam desenvolver algumas imagens, fantasias que a vida de hoje não está permitindo". Temos uma realidade no Brasil que vai do menino da "idade da pedra" (o índio e as crianças sem acesso à tecnologia), ou você tem aquele menino que está na Internet 24 h ao dia. Tanto um quanto outro, tomando os dois extremos, precisam da construção de um EU e de uma aprendizagem saudável. Penso que o espaço do psicopedagogo é muito grande, e quando analisamos a possibilidade da regulamentação, é muito em função dessa necessidade de se colocar na melhoria da qualidade de vida do ser humano e do planeta. Um outro fator é o preconceito que existe contra a psicologia ( sou psicóloga e sei disso), o psicopedagogo é mais fácil de ser aceito em alguns lugares, em algumas famílias.
Daí a importância do reconhecimento do psicopedagogo?
Acho que mais importante que a regulamentação, é o psicopedagogo se movimentar para ser reconhecido pela competência. Como acontece com a psicanálise que não é uma profissão legalizada mas é "reconhecida" socialmente. Eu vejo a psicopedagogia necessitando disso, só assim irá se manter num patamar, num status especial. Talvez por dificuldades em se apropriar do lugar. O psicopedagogo precisa se apropriar da sua profissão de forma a ser reconhecida enquanto competência . Esse para mim é o verdadeiro reconhecimento. O reconhecimento oficial é importante mas mais importante que tudo é provarmos a competência do psicopedagogo, sua relevância social, especialmente neste momento histórico que vivemos: mudanças de valores, de paradigmas numa velocidade rápida.
Se o importante é a competência, qual a diferença na questão da regulamentação como especialização e não como graduação?
Porque é necessário que o profissional possua uma formação acadêmica mais sólida e aprofundada para formar-se psicopedagogo assim ele enriquece sua graduação anterior, em qualquer curso de áreas afins por exemplo fonoaudiologia, pedagogia, psicologia. O curso precisa ter um estágio supervisionado, deve ter algumas garantias de qualidade. O reconhecimento garantiria, abrir o espaço de uma forma mais concreta na Rede Pública, em todas as Instituições Públicas do país, garantindo uma ação mais social e democrática.
Qual a diferença da psicopedagogia no Brasil e na Argentina, onde é regulamentada e se estende às áreas hospitalar, empresarial, etc ?
A cultura da psicopedagogia no Brasil está engatinhando quando comparada à Argentina. Acho que as diferenças passam fundamentalmente pela realidade cultural de cada país. A Argentina tem uma história cultural diferente do Brasil. Fiquei uma semana em Los Ninõs, com Ana Maria Muñiz que desenvolve um trabalho comprometido com a seriedade. No Brasil nosso processo histórico foi e é outro, seguimos outro caminho. Os profissionais argentinos, por sua própria história na psicopedagogia, são mais amadurecidos, nós temos profissionais pensando o novo, voltados para as peculiaridades da nossa realidade.
Em que setores estará o psicopedagogo?
Em primeira instância no setor da Educação, em seguida nos hospitais, estatais e empresas. Ele está onde há relações sociais e, portanto, aprendizagem. Está nas instituições , está no aprender humano. Aliás, o psicopedagogo está chegando nas empresas de uma forma muito linda. Se você parar para pensar o movimento que acontece hoje, e está voltado à relação empresa-empregado que vai deixando de ser matriarca protetora. Por tudo que se lê, há a possibilidade a médio prazo da CLT ser modificada no Brasil nessa questão de ser a lei tão paternalista. Nesse momento sobreviverá o profissional mais formado, o mais estruturado, mais competente. Aí, o espaço do psicopedagogo vai se abrir como um botão em rosa. Há algumas experiências, poucas é verdade, mas é um espaço que o psicopedagogo vai saber ocupar nas empresas, sejam estatais ou privadas, atuando nesse novo momento de se aprender a ser empresa e empregado.
E nas escolas, como está o trabalho do psicopedagogo institucional?
Nas escolas particulares o psicopedagogo é uma realidade. Boa parte das boas escolas têm esse profissional nos seus quadros. Se não existe como uma vaga estabelecida em organograma o Orientador ou Coordenador são psicopedagogos e atuam como tal, com olhar e postura de escuta, mediando as aprendizagens em todos os níveis.
E na saúde?
Na saúde também já existem boas experiências. O Hospital das Clínicas está com um setor de psicopedagogia muito bom. Está fazendo um trabalho ligado ao Francisco Assunção, da Psiquiatria Infantil. A Escola Paulista de Medicina também tem gente trabalhando na Santa Casa e em outros Hospitais do Brasil com equipes multidisciplinares.
Você já sabe da existência de psicopedagogos empresariais?
Sim. Sei de colegas que atuam com procedimentos e postura psicopedagógicos junto à área de Recursos Humanos para melhorar a qualidade do aprendizado das pessoas, dos funcionários. Nesse trabalho a atuação está direcionada para o desenvolvimento individual e coletivo do corpo de funcionários. Um funcionário, com suas potencialidades reconhecidas e promovidas, se situa melhor como cidadão de direitos e deveres, portanto mais produtivo para si, para a empresa, para a sociedade e para o planeta. O psicopedagogo, a partir de sua experiência na escola, quer privada ou estatal, observou a necessidade da valorização e desenvolvimento do ser humano, da consideração do custo-benefício como possibilidade e garantia da continuidade de um trabalho. Essa visão era o que as empresas – não escolas, necessitavam. Dá para entender como foi a solicitação de Psicopedagogos nas empresas, não dá?
Em sua opinião, a família e a escola estão confundindo seus papéis? Assistimos a um empurra-empurra de responsabilidades e a criança muitas vezes acaba em um psicólogo ou psicopedagogo sem a efetiva necessidade?
Isso é muito delicado. Na realidade é a família que está perdida, não sabendo lidar com situações novas. Acho que a escola passa a ter uma função mais abrangente, por isso defendo o psicopedagogo institucional. Se você cuidar da psicopedagogia institucional, provavelmente vai ocupar um vazio importante na vida das crianças. Recortemos um exemplo, como o caso de uma criança, que vai a um neuropsiquiatra e vende uma imagem absolutamente oposta à realidade. O neuropsiquiatra pode comprar essa imagem. Isto é um recorte! Já o psicopedagogo que está na clínica, tem que atuar integrando-se com a família e escola, sem competição, mas em parceria para poder trabalhar. Não estamos, aqui, generalizando a atuação de todos profissionas, mas destacando que, pela sua peculiaridade, o trabalho de especialistas pode ser recortado. Já o de Psicopedagogo não o pode, sob pena de não atuar como Psicopedagogo também, é bom afirmar que não estou dizendo que o Psicopedagogo substitui o possível "vazio" que pode haver na relação família-filhos, mas que ele tem a obrigação de atuar nesse espaço, favorecendo a ambos o entendimento do processo que vivem e que, naquele momento, estão podendo desenvolver.
A interface entre a psicopedagogia e a orientação educacional é muito grande, no projeto de regulamentação está previsto algum tipo de aproveitamento, ou integração de atividades?
Sim, porque nosso objeto de trabalho é a aprendizagem e o aprender a aprender eterno, independentemente do contexto histórico e, portanto, metodológico determinante na época.
O que a ABPp está fazendo efetivamente para a regulamentação acontecer?
Há uma comissão organizada com membros da associação, da nacional e das sessões trabalhando nisso. Efetivamente há mais membros de Goiânia e Brasília, pela própria proximidade com Brasília. Todo Projeto de Lei precisa de um deputado. No nosso caso é o deputado Barbosa Neto quem está guiando o projeto. Já houve audiência pública e a síntese do projeto já consta neste site, o Psicopedagogia On Line ( http://www.psicopedagogia.com.br ) e no site da ABPp ( http://www.abpp.com.br ).
Como está a fiscalização de cursos de psicopedagogia, de profissionais?
Como a profissão não é regulamentada a Associação não pode fiscalizar, o que fazemos é organizar os cursos e profissionais através do cadastramento. Um dos objetivos no Congresso de 2000 é um pré-Congresso para os organizadores dos cursos, com a intenção de garantir a boa qualidade de um estágio supervisionado.A ABPp é uma instância catalisadora dos anseios nacionais e, como tal, estará ao lado da categoria, zelando e defendendo a qualidade do seu trabalho.
Uma vez que o curso não está regulamentado, como ficam os profissionais que se intitulam psicopedagogos?
Na verdade a questão é outra. A questão é onde este profissional fez a sua formação? Pois é isso que vai pesar, na minha opinião, sem dúvida sobreviverá no mercado, como em qualquer outra profissão, o profissional mais competente, isso é inegável. A psicopedagogia é uma profissão onde o indivíduo precisa estar muito bem estruturado enquanto EU, caso contrário não terá condições de Ter o necessário olhar abrangente. Então ele tem de cuidar de sua formação, tem de fazer supervisão, não adianta escapar da supervisão,.Assim, a formação de base é que deve ser perguntada detalhadamente, o psicopedagogo tem de cuidar da sua formação. Ele deve cuidar de sua formação completa enquanto profissional ou pessoa, independentemente desta ou daquela linha de atuação.
De uma forma geral, como está o sistema escolar?
Muito aquém do necessário. Neste final da década de 90 ainda encontramos formatos semelhantes aos de algumas décadas atrás. Não está formatado para a criança atual. Se tivéssemos nas escolas psicopedagogos trabalhando essas estruturas, talvez não tivéssemos o número imenso de crianças chegando aos consultórios com problemas de aprendizagem. À medida que as escolas não estão sendo estruturadas para corresponder às necessidades das crianças mais sensíveis, é mais fácil encaminhar. Não é um simples delegar. Na realidade essas escolas não têm condição de atendê-las não estão estruturadas para esse lugar. Permanecem com um formato e o modelo escolar no mundo, obviamente, tem diferenças de lugar para lugar, de década para década. A grande maioria das escolas renovadas na década de 70, não conseguiu sustentar as mudanças. De uma certa maneira tentaram renovar o modelo, mas não modificaram o estrutural. Houve escolas que se perderam na orientação porque esqueceram que a criança precisa ser organizada, precisa ser cuidada dentro daquilo que tem. Vieram com idéias muito boas, com conceitos acadêmicos de primeira grandeza, mas deixaram de adequar a instituição. Podemos dizer que deixaram de se fundamentar , de se atualizar, de viver constextualizandas com o momento histórico que vivemos. Se o olhar psicopedagógico existisse nas escolas, a clínica seria reduzida. A falta de uma estrutura psicopedagógica gera muito problema escolar. Uma escola bem estruturada pode resolver muitos problemas. Ao analisarmos dois níveis de psicopedagogos, o clínico e escolar, deveria ir para o clínico aquela criança que efetivamente apresenta um problema clínico. Mas, as escolas confundem muito, mandando para os clínicos crianças que uma boa estrutura escolar resolveria. A atuação do psicopedagogo amenizaria.
Quais seriam os problemas clínicos, ou indicação para uma escola especial?
Essa é uma pergunta muito ampla. Um caso clínico seria daquela criança que tem alguma etiologia neurológica, alguma questão fisiológica, ou que, ao longo de sua história, adquiriu algum problema que dificulta sua relação dela com a aprendizagem, machucada pelo sistema. Um caso de cuidado especial seria o daquela criança mais desatenciosa. A criança mais inteligente que é tachada como problema.
Os psicopedagogos estão também nas escolas especiais?
Uma escola especial, tem de estar na mão de um psicopedagogo.
Presidente, para finalizar, como será o Congresso de Psicopedagogia de 2000?
Estamos preparando um Congresso comprometido com as demandas e anseios da contemporaneidade, que possa fortalecer a psicopedagogia no Brasil como um todo, que seja multiplicador, fortalecedor. O psicopedagogo também precisa saber o seu lugar. A escola não é lugar para se fazer clínica, na escola se faz Psicopedagogia Institucional. Infelizmente, vemos alguns profissionais fazendo clínica dentro da escola, isso não dá certo porque não é ali esse espaço.
Nívea Maria C. de Fabrício - Presidente da ABPp - Associação Brasileira de Psicopedagogia. Psicóloga com formação em Psicanálise, Psicopedagoga, Terapeuta Familiar, Formação em Psicopedagogia em Epsiba e no grupo de Psicopedagogos da prof. Alicia Fernández, especialista em Psicoprofilaxia pelo Sedes Sapintiae.
Caras colegas, leiam e releiam atentamente esse artigo e deflitam suas práticas. E sucesso para nós todos!
Nívea Maria C. de Fabrício
Presidente da ABPp fala sobre a regulamentação da profissão
Como está a regulamentação da profissão de psicopedagogo?
Está em Brasília obedecendo aos trâmites legais, sob o comando do Deputado Barbosa neto e, está na comicidade em fóruns, encontros, simpósios, ou seja, em todas as situações e momentos em que possamos refletir e trocar, sobre o papel e campo de atuação do Psicopedagogo; da Psicopedagogia. Nosso processo de regulamentação passa pela legalização e legitimação. A sociedade legitima e a lei legaliza. Na minha concepção , a Psicopedagogia é a profissão do terceiro milênio, pelo menos no próximo século, portanto, sua legitimação é mais decorrente. Já, a legalização, pelo aspecto burocrático, e pela dinâmica democrática que deve incorporar, o ritmo é diferenciado, talvez mais lento, principalmente porque estamos reivindicando alto novo no Brasil. Nosso projeto de regulamentação será de especialidade e não de graduação. Isso é inédito! O Conselho Nacional vem discutindo o assunto desde 92. O projeto já foi aprovado na comissão do trabalho. Já houve audiência pública da comissão de educação; estamos aguardando o julgamento. A seguir vem a comissão de justiça. O que eu estou sentindo de importante, é que temos o Brasil inteiro se mobilizando e, nossa função, é mostrar à comissão da Educação nossa importância e a necessidade da regulamentação.
Por que vem crescendo a necessidade do psicopedagogo nas instituições e na clínica?
Porque o Psicopedagogo trabalha essencialmente com o fenômeno aprendizagem. Aprendizagem em seu processo maior, num processo educativo na vida, na sociedade, nas relações.
A educação está fragmentada, mas exigindo capacidades integradoras. Aprender a aprender está muito difícil. A aprendizagem está muito difícil. Em uma palestra, em Goiás, Marina Colassante, disse: "O jovem, a criança, precisam desenvolver algumas imagens, fantasias que a vida de hoje não está permitindo". Temos uma realidade no Brasil que vai do menino da "idade da pedra" (o índio e as crianças sem acesso à tecnologia), ou você tem aquele menino que está na Internet 24 h ao dia. Tanto um quanto outro, tomando os dois extremos, precisam da construção de um EU e de uma aprendizagem saudável. Penso que o espaço do psicopedagogo é muito grande, e quando analisamos a possibilidade da regulamentação, é muito em função dessa necessidade de se colocar na melhoria da qualidade de vida do ser humano e do planeta. Um outro fator é o preconceito que existe contra a psicologia ( sou psicóloga e sei disso), o psicopedagogo é mais fácil de ser aceito em alguns lugares, em algumas famílias.
Daí a importância do reconhecimento do psicopedagogo?
Acho que mais importante que a regulamentação, é o psicopedagogo se movimentar para ser reconhecido pela competência. Como acontece com a psicanálise que não é uma profissão legalizada mas é "reconhecida" socialmente. Eu vejo a psicopedagogia necessitando disso, só assim irá se manter num patamar, num status especial. Talvez por dificuldades em se apropriar do lugar. O psicopedagogo precisa se apropriar da sua profissão de forma a ser reconhecida enquanto competência . Esse para mim é o verdadeiro reconhecimento. O reconhecimento oficial é importante mas mais importante que tudo é provarmos a competência do psicopedagogo, sua relevância social, especialmente neste momento histórico que vivemos: mudanças de valores, de paradigmas numa velocidade rápida.
Se o importante é a competência, qual a diferença na questão da regulamentação como especialização e não como graduação?
Porque é necessário que o profissional possua uma formação acadêmica mais sólida e aprofundada para formar-se psicopedagogo assim ele enriquece sua graduação anterior, em qualquer curso de áreas afins por exemplo fonoaudiologia, pedagogia, psicologia. O curso precisa ter um estágio supervisionado, deve ter algumas garantias de qualidade. O reconhecimento garantiria, abrir o espaço de uma forma mais concreta na Rede Pública, em todas as Instituições Públicas do país, garantindo uma ação mais social e democrática.
Qual a diferença da psicopedagogia no Brasil e na Argentina, onde é regulamentada e se estende às áreas hospitalar, empresarial, etc ?
A cultura da psicopedagogia no Brasil está engatinhando quando comparada à Argentina. Acho que as diferenças passam fundamentalmente pela realidade cultural de cada país. A Argentina tem uma história cultural diferente do Brasil. Fiquei uma semana em Los Ninõs, com Ana Maria Muñiz que desenvolve um trabalho comprometido com a seriedade. No Brasil nosso processo histórico foi e é outro, seguimos outro caminho. Os profissionais argentinos, por sua própria história na psicopedagogia, são mais amadurecidos, nós temos profissionais pensando o novo, voltados para as peculiaridades da nossa realidade.
Em que setores estará o psicopedagogo?
Em primeira instância no setor da Educação, em seguida nos hospitais, estatais e empresas. Ele está onde há relações sociais e, portanto, aprendizagem. Está nas instituições , está no aprender humano. Aliás, o psicopedagogo está chegando nas empresas de uma forma muito linda. Se você parar para pensar o movimento que acontece hoje, e está voltado à relação empresa-empregado que vai deixando de ser matriarca protetora. Por tudo que se lê, há a possibilidade a médio prazo da CLT ser modificada no Brasil nessa questão de ser a lei tão paternalista. Nesse momento sobreviverá o profissional mais formado, o mais estruturado, mais competente. Aí, o espaço do psicopedagogo vai se abrir como um botão em rosa. Há algumas experiências, poucas é verdade, mas é um espaço que o psicopedagogo vai saber ocupar nas empresas, sejam estatais ou privadas, atuando nesse novo momento de se aprender a ser empresa e empregado.
E nas escolas, como está o trabalho do psicopedagogo institucional?
Nas escolas particulares o psicopedagogo é uma realidade. Boa parte das boas escolas têm esse profissional nos seus quadros. Se não existe como uma vaga estabelecida em organograma o Orientador ou Coordenador são psicopedagogos e atuam como tal, com olhar e postura de escuta, mediando as aprendizagens em todos os níveis.
E na saúde?
Na saúde também já existem boas experiências. O Hospital das Clínicas está com um setor de psicopedagogia muito bom. Está fazendo um trabalho ligado ao Francisco Assunção, da Psiquiatria Infantil. A Escola Paulista de Medicina também tem gente trabalhando na Santa Casa e em outros Hospitais do Brasil com equipes multidisciplinares.
Você já sabe da existência de psicopedagogos empresariais?
Sim. Sei de colegas que atuam com procedimentos e postura psicopedagógicos junto à área de Recursos Humanos para melhorar a qualidade do aprendizado das pessoas, dos funcionários. Nesse trabalho a atuação está direcionada para o desenvolvimento individual e coletivo do corpo de funcionários. Um funcionário, com suas potencialidades reconhecidas e promovidas, se situa melhor como cidadão de direitos e deveres, portanto mais produtivo para si, para a empresa, para a sociedade e para o planeta. O psicopedagogo, a partir de sua experiência na escola, quer privada ou estatal, observou a necessidade da valorização e desenvolvimento do ser humano, da consideração do custo-benefício como possibilidade e garantia da continuidade de um trabalho. Essa visão era o que as empresas – não escolas, necessitavam. Dá para entender como foi a solicitação de Psicopedagogos nas empresas, não dá?
Em sua opinião, a família e a escola estão confundindo seus papéis? Assistimos a um empurra-empurra de responsabilidades e a criança muitas vezes acaba em um psicólogo ou psicopedagogo sem a efetiva necessidade?
Isso é muito delicado. Na realidade é a família que está perdida, não sabendo lidar com situações novas. Acho que a escola passa a ter uma função mais abrangente, por isso defendo o psicopedagogo institucional. Se você cuidar da psicopedagogia institucional, provavelmente vai ocupar um vazio importante na vida das crianças. Recortemos um exemplo, como o caso de uma criança, que vai a um neuropsiquiatra e vende uma imagem absolutamente oposta à realidade. O neuropsiquiatra pode comprar essa imagem. Isto é um recorte! Já o psicopedagogo que está na clínica, tem que atuar integrando-se com a família e escola, sem competição, mas em parceria para poder trabalhar. Não estamos, aqui, generalizando a atuação de todos profissionas, mas destacando que, pela sua peculiaridade, o trabalho de especialistas pode ser recortado. Já o de Psicopedagogo não o pode, sob pena de não atuar como Psicopedagogo também, é bom afirmar que não estou dizendo que o Psicopedagogo substitui o possível "vazio" que pode haver na relação família-filhos, mas que ele tem a obrigação de atuar nesse espaço, favorecendo a ambos o entendimento do processo que vivem e que, naquele momento, estão podendo desenvolver.
A interface entre a psicopedagogia e a orientação educacional é muito grande, no projeto de regulamentação está previsto algum tipo de aproveitamento, ou integração de atividades?
Sim, porque nosso objeto de trabalho é a aprendizagem e o aprender a aprender eterno, independentemente do contexto histórico e, portanto, metodológico determinante na época.
O que a ABPp está fazendo efetivamente para a regulamentação acontecer?
Há uma comissão organizada com membros da associação, da nacional e das sessões trabalhando nisso. Efetivamente há mais membros de Goiânia e Brasília, pela própria proximidade com Brasília. Todo Projeto de Lei precisa de um deputado. No nosso caso é o deputado Barbosa Neto quem está guiando o projeto. Já houve audiência pública e a síntese do projeto já consta neste site, o Psicopedagogia On Line ( http://www.psicopedagogia.com.br ) e no site da ABPp ( http://www.abpp.com.br ).
Como está a fiscalização de cursos de psicopedagogia, de profissionais?
Como a profissão não é regulamentada a Associação não pode fiscalizar, o que fazemos é organizar os cursos e profissionais através do cadastramento. Um dos objetivos no Congresso de 2000 é um pré-Congresso para os organizadores dos cursos, com a intenção de garantir a boa qualidade de um estágio supervisionado.A ABPp é uma instância catalisadora dos anseios nacionais e, como tal, estará ao lado da categoria, zelando e defendendo a qualidade do seu trabalho.
Uma vez que o curso não está regulamentado, como ficam os profissionais que se intitulam psicopedagogos?
Na verdade a questão é outra. A questão é onde este profissional fez a sua formação? Pois é isso que vai pesar, na minha opinião, sem dúvida sobreviverá no mercado, como em qualquer outra profissão, o profissional mais competente, isso é inegável. A psicopedagogia é uma profissão onde o indivíduo precisa estar muito bem estruturado enquanto EU, caso contrário não terá condições de Ter o necessário olhar abrangente. Então ele tem de cuidar de sua formação, tem de fazer supervisão, não adianta escapar da supervisão,.Assim, a formação de base é que deve ser perguntada detalhadamente, o psicopedagogo tem de cuidar da sua formação. Ele deve cuidar de sua formação completa enquanto profissional ou pessoa, independentemente desta ou daquela linha de atuação.
De uma forma geral, como está o sistema escolar?
Muito aquém do necessário. Neste final da década de 90 ainda encontramos formatos semelhantes aos de algumas décadas atrás. Não está formatado para a criança atual. Se tivéssemos nas escolas psicopedagogos trabalhando essas estruturas, talvez não tivéssemos o número imenso de crianças chegando aos consultórios com problemas de aprendizagem. À medida que as escolas não estão sendo estruturadas para corresponder às necessidades das crianças mais sensíveis, é mais fácil encaminhar. Não é um simples delegar. Na realidade essas escolas não têm condição de atendê-las não estão estruturadas para esse lugar. Permanecem com um formato e o modelo escolar no mundo, obviamente, tem diferenças de lugar para lugar, de década para década. A grande maioria das escolas renovadas na década de 70, não conseguiu sustentar as mudanças. De uma certa maneira tentaram renovar o modelo, mas não modificaram o estrutural. Houve escolas que se perderam na orientação porque esqueceram que a criança precisa ser organizada, precisa ser cuidada dentro daquilo que tem. Vieram com idéias muito boas, com conceitos acadêmicos de primeira grandeza, mas deixaram de adequar a instituição. Podemos dizer que deixaram de se fundamentar , de se atualizar, de viver constextualizandas com o momento histórico que vivemos. Se o olhar psicopedagógico existisse nas escolas, a clínica seria reduzida. A falta de uma estrutura psicopedagógica gera muito problema escolar. Uma escola bem estruturada pode resolver muitos problemas. Ao analisarmos dois níveis de psicopedagogos, o clínico e escolar, deveria ir para o clínico aquela criança que efetivamente apresenta um problema clínico. Mas, as escolas confundem muito, mandando para os clínicos crianças que uma boa estrutura escolar resolveria. A atuação do psicopedagogo amenizaria.
Quais seriam os problemas clínicos, ou indicação para uma escola especial?
Essa é uma pergunta muito ampla. Um caso clínico seria daquela criança que tem alguma etiologia neurológica, alguma questão fisiológica, ou que, ao longo de sua história, adquiriu algum problema que dificulta sua relação dela com a aprendizagem, machucada pelo sistema. Um caso de cuidado especial seria o daquela criança mais desatenciosa. A criança mais inteligente que é tachada como problema.
Os psicopedagogos estão também nas escolas especiais?
Uma escola especial, tem de estar na mão de um psicopedagogo.
Presidente, para finalizar, como será o Congresso de Psicopedagogia de 2000?
Estamos preparando um Congresso comprometido com as demandas e anseios da contemporaneidade, que possa fortalecer a psicopedagogia no Brasil como um todo, que seja multiplicador, fortalecedor. O psicopedagogo também precisa saber o seu lugar. A escola não é lugar para se fazer clínica, na escola se faz Psicopedagogia Institucional. Infelizmente, vemos alguns profissionais fazendo clínica dentro da escola, isso não dá certo porque não é ali esse espaço.
Nívea Maria C. de Fabrício - Presidente da ABPp - Associação Brasileira de Psicopedagogia. Psicóloga com formação em Psicanálise, Psicopedagoga, Terapeuta Familiar, Formação em Psicopedagogia em Epsiba e no grupo de Psicopedagogos da prof. Alicia Fernández, especialista em Psicoprofilaxia pelo Sedes Sapintiae.
Caras colegas, leiam e releiam atentamente esse artigo e deflitam suas práticas. E sucesso para nós todos!
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