INTRODUÇÃO:
A Psicopedagogia como campo de conhecimento e atuação em Saúde e Educação, enquanto prática clínica tem-se transformado em campo de estudos para investigadores interessados no processo de construção do conhecimento e nas dificuldades que se apresentam nessa construção. É intrigante pensar em certas doenças que só se manifestam quando o quesito é aprendizagem específica, na hora de aprender a ler e a escrever e no campo lógico matemático e seus símbolos. Observa-se que na falta de elementos para um diagnóstico médico embasado e confirmado através de exames de qualquer natureza científica que possa apontar causas médicas reais para justificar tais dificuldades de aprendizagem. O que se observa, é uma necessidade que permeia uma via de mão dupla, onde o que pode ocorrer é a individualização das causas, elegendo o aluno como único responsável pelas suas dificuldades escolar, rotulando-o nas nosologias denominadas "distúrbios", “transtornos” “disfunções" etc., Não podendo deixar de observar o indivíduo em todos os sistemas no qual está inserido, ou seja, falar das relações entre o processo ensino/aprendizagem, saúde/doença e suas implicações. Existe, na verdade, um mito que se dissemina em várias direções: a crença de que questões de saúde são responsáveis pelo menos em parte, pela dificuldade de aprendizagem escolar, Esta questão deverá ser motivo de inquietação e objeto de pesquisas por parte dos profissionais da Psicopedagogia, da Educação, antes mesmo que da Medicina. São inúmeras as obras que fazem relações ao assunto, tornando-se praticamente impossível elencar todas as possíveis definições e abordagens sobre esses conceitos. Portanto, pretendemos analisar os conceitos mais comumente utilizados na literatura especializada e algumas das muitas perspectivas de análise sobre a dislexia, procurando delinear um panorama sobre essa dificuldade de aprendizagem de origem tão complexa, e de tratamento muitas vezes ineficazes. Sendo o psicopedagogo um dos profissionais que faz parte da equipe multidisciplinar de avaliação e intervenção da dislexia, é necessário focar o estudo na concepção psicopedagógica, pela sua importância na instituição escolar, na clínica, e na família, bem como na avaliação diagnóstica e no tratamento de alunos disléxicos contribuindo na recuperação e desenvolvimento das habilidades necessárias ao seu desenvolvimento nos aspectos: cognitivos, emocionais, sociais, visando o sucesso nos diversos contextos em que atua, convocando para tal a colaboração, digo que imprescindível, do profissional da fonoaudióloga, que trabalha e estuda o processo de aprendizagem da leitura escrita e suas dificuldades, onde nos estudos sobre as causas das dificuldades leitoras uma hipótese aceita pela grande maioria dos investigadores, é a tese do Déficit Fonológico. “De acordo com esta hipótese, a dislexia é causada por um déficit no sistema de processamento fonológico motivado por a uma disrupção” no sistema neurológico cerebral, ao nível do processamento fonológico.
Galaburda, autor famoso, reconhecido por todos os autores quando falam de dislexia e TDAH, sendo um dos que mais têm trabalhos em alterações anatômicas na dislexia, publicou uma série de trabalhos nas décadas de 1970 e 1980, e que são repetidamente citados por praticamente todos os outros autores, em que, presumidamente, teria comprovado que o problema da dislexia seria a assimetria de neurônios no plano temporal e ectopital neuronais em córtex, tálamo e cerebelo. Galaburda estudou cinco pessoas com idades variando de 12 a 30 anos e presumiu que eram disléxicas! Como foi feito o diagnóstico de dislexia? Não encontrei ainda informação científica sobre isso, o que me parece ser esta questão, fundamental em pesquisa científica. Tais resultados vêm sendo ao longo dos anos, ponto de convergência e de divergência entre vários estudiosos a exemplo de KIGUEL (1983), que ressalta: a Psicopedagogia encontra-se em fase de organização de um corpo teórico específico, visando à integração das ciências pedagógicas, psicológica, fonoaudiológica, neuropsicológica e psicolingüística para uma compreensão mais apurada o que, despertou o interesse de outros estudiosos como Ellis, (1984),“Não podemos de forma alguma simplesmente dividir a população entre aqueles que são disléxicos e aqueles que não o são”.
Siegel (2006), diz: “Um dos grandes problemas é que não existe nenhum exame de sangue específico ou resultado de imagens do cérebro que possa fornecer um diagnóstico. Fundamentalmente, o problema é que a leitura é medida em um ‘continuum’, e não há nota de corte em um teste de leitura que claramente distinga indivíduos disléxicos e não disléxicos. A distinção entre dislexia e leitura normal é arbitrária; o ponto de corte varia de estudo para estudo. Exatamente onde está a linha entre disléxicos e não disléxicos é subjetivo e controverso.”
Segundo Davis, (2004, p. 36), a dislexia não resulta de lesões cerebrais ou nervosas, nem também é originada por uma má-formação do cérebro, do ouvido interno ou do globo ocular, como era imaginado por pesquisadores de outrora. “A dislexia é produto do pensamento e uma forma especial de reagir ao sentimento de confusão.” Esse sentimento de confusão é denominado pelo autor também de desorientação, que em sua ótica significa que a percepção dos símbolos se altera e se distorce de forma que ler ou escrever se torna bastante difícil ou quase impossível. Segundo ele, ironicamente, essa alteração da percepção é precisamente o mecanismo que os disléxicos consideram útil para reconhecer objetos e situações da vida real em seu ambiente antes que iniciassem a aprender a ler.
Ainda Davis, (2004, p. 134), afirma que “a dislexia não deveria ser chamada de transtorno de aprendizagem. Deveria ser chamada com maior exatidão de risco de condicionamento”, pois quando a aprendizagem é apresentada através de experiências práticas, interativas, dinâmicas, “os disléxicos conseguem dominar muitas coisas mais rapidamente do que a pessoa comum levaria para compreendê-las.” Trata-se de uma questão de adequação que configurará no seu aprendizado escolar, podendo trazer como conseqüência maior a repetência e a evasão escolar, proporcionando ao mesmo, uma frustração muitas vezes incorrigível na sua vida adulta.
O desenvolvimento de uma pesquisa sobre dificuldades de aprendizagem e dislexia e a intervenção psicopedagógica tem como objetivo despertar o interesse dos profissionais envolvidos, em aprofundar estudos na área, a fim de prevenir ou minimizar os danos que por ventura venham a surgir como conseqüências de diagnósticos questionáveis motivaram a realização deste estudo.