18/05/2011

Divulgação científica: Por uma sociedade Cidadã

Lednalva Oliveira

Psicopedagoga Clínica

A história da civilização, em diferentes momentos, faz referências a divulgação científica manifestada sob vários aspectos e meios, ainda que não na forma como hoje é pensada e praticada. Alguns autores afirmam que a divulgação científica nasceu com a própria ciência. Ora, se entendemos a importância dos conhecimentos produzidos pela Ciência como algo inquestionável para o mundo moderno, a importância da comunicação destes conhecimentos não deve ser menor, pois ela será o canal que às outras atividades humanas. Frequentemente na literatura especializada há uma explicação para esse considerado “fenômeno”, relacionando-o com o avanço crescente da Ciência e Tecnologia, principalmente a partir da Segunda Guerra Mundial, onde a relação Sociedade - Ciência - Tecnologia começa a modificar-se significativamente. A Humanidade e a Ciência sofrem um distanciamento, em contrapartida ao desenvolvimento científico-tecnológico, e a comunicação entre ambas apresenta uma possibilidade de acesso ao público leigo e a integração do conhecimento científico à sua cultura.

Segundo Sanchéz Mora (2003), a ciência é uma produção humana que desempenha um papel indiscutível no processo de civilização. É uma atividade intelectual cujos resultados têm repercussão em todos os âmbitos da existência. A ciência faz parte da cultura. No entanto, em geral, tem-se a falsa imagem de que a ciência é uma tarefa alheia, um abismo aparentemente intransponível: a super especialização da ciência moderna e a defasagem cultural.

Vale salientar que a ciência, nas suas origens, estava fortemente relacionada às humanidades e que foram as especializações, no século XIX, que trouxeram “(...) uma mudança na linguagem científica, criando dificuldades na comunicação entre cientistas e leigos, pela ausência de uma linguagem comum” (SANCHEZ MORA, 2003, p.21).

Nesta perspectiva, um número cada vez maior de pesquisadores tem apontado a divulgação científica como objetivo social prioritário, um fator essencial para o desenvolvimento das pessoas e dos povos. Enfim, como uma forma eficiente e democrática de provocar a apropriação, por parte da sociedade, da cultura científica, com sua linguagem, normas e princípios próprios, por meio dos quais a ciência pode ser apresentada como uma forma de entender e se relacionar conforme a necessidade daqueles que nada sabem de ciência, portanto, excluídos de contribuir de alguma forma para o debate do efeito que ela tem sobre nossas vidas.Por muito tempo, houve um conceito bastante difundido de que caberia à divulgação científica preencher as lacunas de informação que o leigo tem em relação à ciência, isto é, que a divulgação científica deve atender as pessoas leigas, consideradas analfabetas em termos científicos. Tal idéia gerou o termo scientifc literacy, que é alfabetização científica, isto é, tornar o leigo in-formado das questões da ciência. Segundo Durant (2005), essa visão surge como forma de suprir o déficit de informação da população do mundo. Tal ideia é também compartilhada por Bueno que, considerando o elevado índice da população alijada dos assuntos científicos, afirma que “a partilha do saber inclui-se, sem dúvida, entre as funções sociais mais importantes (…) no processo de democratização do conhecimento” (BUENO, 2002, p. 229). Ainda com Sánchez Mora (2003), existem duas vertentes que justificam necessária divulgação científica, em que, segundo o autor,’(...) sob esse ponto de vista ser cientificamente alfabetizado quer dizer estar familiarizado com os conteúdos da ciência “; (DURANT, 2005, p.15). Ele acredita que a maior parte dos estudantes, na maioria dos cursos formais de ciências, tem pouco tempo para qualquer outra coisa além de memorizar a quantidade exigida de conhecimento científico. Com o decorrer das atividades em vários países, na Inglaterra, na França, na Europa de modo geral, e com reflexos em países como o Brasil, essa teoria do difícil foi sendo substituída por uma visão mais democrática do papel da divulgação científica. Nesta nova visão, não cabe à divulgação científica apenas levar a informação, mas também atuar de modo a produzir as condições de formação crítica do cidadão em relação à ciência. O pressuposto é de que oferecer condições de acesso democrático to de fatos. Precisa, também, mais do que imagens idealizadas da “atitude científica” e do “método científico”. O que ele necessita é uma percepção em relação ao modo pelo qual o sistema social da ciência realmente funciona para divulgar o que é usualmente conhecimento confiável a respeito do mundo natural. “O público precisa compreender que às vezes a ciência funciona não por causa de, mas, sim, apesar de,os indivíduos envolvidos no processo de produção do conhecimento científico. O fenômeno da inclusão social do ponto de vista da informação antes de se tornar uma questão social é uma questão de fundamento material e econômico. Mas, com relação à informação, essa nova perspectiva atribuída às ações de divulgação científica e a proposta de cultura científica observamos uma grande transformação no século XXI em relação aos meios de se difundirem idéias, o que possibilitou um aumento significativo do universo de pessoas que passaram a receber informações. O advento do rádio, na década de 20, e da televisão, que passou a atuar maciçamente de pessoas que passaram a receber informações. Antes a informação e a disseminação das idéias acontecia basicamente através de publicações às quais pequena parcela da população tinha acesso, depois do rádio e da televisão a informação passou a integrar a vida cotidiana de parte cada vez maior da sociedade. Com isso, a divulgação científica tem conquistado diferentes espaços sociais, inclusive as escolas e, mais especificamente, o ensino de ciências, e um aumento significativo de ações com o objetivo de difundir os saberes produzidos pela ciência onde tem se evidenciado cada vez mais a superação de situações-problema do cotidiano de toda a população.

A educação tem como papel formar o cidadão apto a tomar decisões e a fazer escolhas bem informadas acerca de diferentes pontos de vista, exercendo de fato o direito a sua cidadania. É importante frisar que a divulgação científica não se restringe ao campo da imprensa, A ciência deve promover a popularização do conhecimento que está sendo produzido nas nossas universidades e centros de pesquisa. Diante do exposto, os professores assumem um papel social estratégico, como formadores de opinião, multiplicadores e mediadores nos processos de construção de conhecimento consciente e crítico promovendo modificações de atitudes, interesses e valores.

Cabe ressaltar nessa linha de pensamento a contribuição das reuniões anuais da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), e ainda a criação de vários centros e museus de ciência,a criação de um departamento no Ministério da Ciência e Tecnologia voltado para a difusão da C&T, ligado à Secretaria de Inclusão Social, o Programa Ciência Móvel com Intinerância Nacional de Exposições, entre outras aqui apresentada defende que o conhecimento científico não deve ficar restrito a poucos e que cabe à divulgação tornar acessível todo conhecimento no sentido de criar uma ponte entre ciência e sociedade e a cidadania.Os últimos anos têm sido marcados por inúmeras experiências de divulgação científica no Brasil, com o objetivo de fortalecer uma visão mais democrática esta tarefa será possível a partir de um amplo processo coletivo envolvendo diversos segmentos da sociedade tais como: instituições de pesquisa, universidades, sociedade científica, governo, comunicadores, educadores e estudantes.

Referências Bibliográfica:

SÁNCHEZ MORA, Ana María. A divulgação da ciência como literatura. Rio de Janeiro: Casa da Ciência, Editora da UFRJ, 2003.

VALERIO, P. M. C. M. Periódicos científicos eletrônicos e novas perspectivas de comunicação e divulgação para a ciência. Tese (Doutorado em Ciência da Informação). Rio de Janeiro: CNPq/IBICIT-ECO/UFRJ, 2005.

Nenhum comentário:

Postar um comentário