27/06/2011

Psicopedagogia e a importância do Brincar da Criança e do Adolescente

Psicopedagogia: Brincadeira é Coisa Séria!

Lednalva Oliveira

ABPp-758

Para o profissional que trabalha na brinquedoteca, não basta saber brincar. É tão, ou mais importante, saber porquê e para quê se brinca. Assim como a observação por si só não confere resultados significativos ao observador. É necessário o registro dessas observações para posterior compreensão desse brincar, sabendo qual é finalidade desse brincar. Assim, o brincar pode nos revelar quais os esquemas que a criança usa para organizar as brincadeiras , pois esses esquemas poderão ser os mesmos que ela usa para lidar com o a aprendizagem escolar.O psicopedagogo precisa ter o” olhar ampliado” pois é partir desse entendimento que o psicopedagogo pode levantar suas hipóteses diagnóstica e intervir de forma producente através da ampliação do olhar para essa criança, lendo “os não ditos” por ela.

A observação permite ainda detectar ainda aquela criança que não brinca, que se recusa, que prefere brincar sozinha. Com a recusa ao brincar ela nos oferece elementos a serem analisados, e informações da necessidade que o psicopedagogo tem que lhe oferecer um modelo que lhe possibilite reconstruir seu discurso, estruturando-o, para possibilitar , a capacidade de seriação, classificação, reversibilidade,etc. Toda criança que se recusa a brincar denuncia que alguma área do seu desenvolvimento não está bem.
O psicopedagogo trabalha com o “aqui” e “agora”, sendo necessário intervir na dificuldade que se apresenta , que interfere na aprendizagem, considerando-se as questões emocionais embutidas.

Os profissionais de Brinquedotecas precisam saber a diferença entre Brinquedos e Brincadeiras. O brinquedo pode perder toda sua utilidade se quem utiliza esses instrumentos, essas ferramenta não tiver a habilidade, a sensibilidade e a fundamentação teórica que confere da importância do brincar no desenvolvimento de uma criança.

Na brincadeira, nos jogos ou qualquer outra forma de brincadeira, é necessário ter objetivos claros por parte do profissional de forma que venha possibilitar observar a realidade da criança. Uma vez que o lúdico, tanto para a criança,quanto para o adolescente, adulto ou idoso, é uma forma de comunicação semelhante à expressão verbal. Ou seja: linguagem do corpo e dos gestos.

Para SIQUEIRA, (1999) deve-se considerar alguns indicadores de suma importancia para um levantamento diagnóstico utilizando o jogo, a brincadeira como instrumentos, considerando-se a necessidade da experiência na clínica por exemplo:

  1. Escolha de brinquedos e de brincadeiras: O tipo de brinquedo escolhido, o tipo de jogo, se tem começo, meio e fim, se é organizado e coerente e se corresponde ao estágio de desenvolvimento cognitivo em que a criança se encontra.
  2. Modalidade das brincadeiras: cada sujeito organiza a sua maneira de brincar de acordo com a modalidade que o seu ego escolhe para essa manifestação simbólica. Destaca-se entre as modalidades de brincadeiras a plasticidade, rigidez e estereotipia e perseverança.
  3. Personificação: é a capacidade que a criança tem de assumir e atribuir papeis de forma dramática. Essa capacidade deve ser analisada levando em consideração a forma de personificação própria a cada estágio de desenvolvimento cognitivo, lembrando que a passagem de um período para o outro não se realiza de forma linear nem brusca, mas com sucessivas progressões e regressões.
  4. Motricidade: observa-se a adequação motora da criança na etapa de evolução que atravessa focando nos indicadores de deslocamento geográfico, possibilidade de encaixe, preensão e manejo, alternância de membros, lateralidade, movimentos voluntários e involuntários, movimentos bizarros, ritmo de movimento, hipersinesia, hipocinesia e ductibilidade.
  5. Criatividade: Observar a capacidade de unir ou relacionar elementos em um novo e diferente.
  6. Tolerância à frustração. Como a criança reage em tolerar ou se frustrar em determinados momentos.
  7. Capacidade simbólica: podemos avaliar a riqueza expressiva, a capacidade intelectual e a qualidade do conflito.
  8. Adequação a realidade: devemos observar como a criança age em ter que se desprender da mãe. Se age de acordo com sua idade, como compreende e aceita as instruções. Deve-se observar a aceitação ou não do enquadramento espaço-temporal e a possibilidade de se colocar em seu papel e aceitar o papel do outro.

Cabe ao Psicopedagogo Clínico apresentar vários materiais tais como: folhas de ofício tamanho A4, borracha, caneta, tesoura, régua, livros ou revistas, barbantes, cola, lápis, massa de modelar, lápis de cor, lápis de cera, quebra-cabeça ou ainda outros materiais que julgar necessários.

O entrevistado tende a comportar-se de diferentes maneiras após ouvir a consigna. Alguns imediatamente, pegam o material e começam a desenhar ou escrever etc. Outros começam a falar, outros pedem que lhe digam o que fazer, e outros simplesmente ficam paralisados. Neste último caso, Visca nos propõe empregar o que ele chamou de modelo de alternativa múltipla (1987, p. 73), cuja intenção é desencadear respostas por parte do sujeito. Visca nos dá um exemplo de como devemos conduzir esta situação: "você pode desenhar, escrever, fazer alguma coisa de matemática ou qualquer coisa que lhe venha à cabeça..." (1987, p. 73).Vejamos o que Sara Paín nos fala sobre esta falta de ação na atividade "A hora do jogo" (atividade trabalhada por alguns psicólogos ou Psicopedagogos que não se aplica à Epistemologia Convergente, porém é interessante citar para percebermos a relação do sujeito com o objeto):

No outro extremo encontramos a criança que não toma qualquer contato com os objetos. Às vezes se trata de uma evitação fóbica que pode ceder ao estímulo. Outras vezes se trata de um desligamento da realidade, uma indiferença sem ansiedade, na qual o sujeito se dobra às vezes sobre seu próprio corpo e outras vezes permanece numa atividade quase catatônica. (1992, p. 53).

Piaget, em Psicología de la Inteligência, coloca que:

9. O indivíduo não atua senão quando experimenta a necessidade; ou seja; quando o equilíbrio se acha momentaneamente quebrado entre o meio e o organismo, a ação tende a reestabelecer este equilíbrio, quer dizer, precisamente, a readaptar o organismo... (PIAGET apud VISCA, 1991, p. 41).

Referência:

PAÍN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto Alegre, Artes Médica, 1985.

RUBINSTEIN, Edith. A especificidade do diagnóstico psicopedagógico in Sisto, Fermino Fernandes...[et al.]. Atuação Psicopedagógica e Aprendizagem Escolar - Petrópolis, RJ, Vozes, 2002.

VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica. Epistemologia Convergente. Porto Alegre, Artes Médicas, 1987.

___________. Psicopedagogia: novas contribuições; organização e tradução Andréa Morais, Maria Isabel Guimarães - Rio de Janeiro: Nova Fronteira,1991.

___________. Técnicas proyetivas psicopedagogicas. Buenos Aires, Ag. Serv.G., 1995.
WEISS, M. L. L.
Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. Rio de Janeiro, DP&A, 2003.

SIQUEIRA, de Ocampo Maria Luísa (orgs) Processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas”. 9ª Ed. São Paulo. Martins Fontes. 1999(Psicologia e Pedagogia)

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